de Marx, Engels, Lenine, Estaline, Mao Tsé-tung e outros autores
Sexta-feira, 14 de Março de 2014
"Esquerdismo", a doença infantil do comunismo (Apêndice)

(início)

Apêndice

Enquanto as editoras de nosso país - que foi saqueado pelos imperialistas de todo o mundo em vingança pela vitória da revolução proletária e que continua sendo saqueado e bloqueado, apesar de todas as promessas feitas aos operários desses países imperialistas - organizavam a publicação do meu folheto, recebemos do estrangeiro dados complementares. Sem aspirar, absolutamente, a que meu folheto seja algo mais que breves notas de um publicista, abordarei ligeiramente alguns pontos.

I

A cisão entre os comunistas alemães

A cisão entre os comunistas na Alemanha é um facto. Os “esquerdistas” ou “oposição de princípio” construíram um “Partido Comunista Operário”, à parte, em contraposição ao “Partido Comunista”. Na Itália, pelo visto, as coisas também marcham para a cisão. Digo “pelo visto” porque disponho apenas de dois novos números, o 7 e o 8, do jornal esquerdista II Soviete, onde se discute abertamente a possibilidade e a necessidade da cisão, além de falar-se também de um congresso da fracção dos “abstencionistas” (ou boicotadores, isto é, dos inimigos da participação no parlamento) que até agora pertence ao Partido Socialista Italiano.

Há receio de que a cisão dos “esquerdistas”, antiparlamentaristas (e em parte também antipolíticos, inimigos do partido político e do trabalho nos sindicatos), se converta num fenómeno internacional, como a cisão dos “centristas” (ou kautskistas, longuetistas, “independentes”, etc.). Assim seja. Afinal de contas, a cisão é melhor que a confusão, que impede o desenvolvimento ideológico, teórico e revolucionário do Partido e o seu amadurecimento, assim como o trabalho prático unitário, verdadeiramente organizado, que realmente prepare a ditadura do proletariado.,

Que os “esquerdistas” provem o acerto de sua linha na prática, em âmbito nacional e internacional, que tentem preparar (e depois realizar) a ditadura do proletariado sem um partido rigorosamente centralizado, dotado de uma disciplina férrea, sem saber dominar todas as esferas, ramos e variedades do trabalho político e cultural. A experiência prática ensiná-los-á com rapidez.

É preciso fazer todos os esforços necessários para que a cisão dos “esquerdistas” não dificulte, ou dificulte o mínimo possível, a fusão num só partido, necessária e inevitável num futuro próximo, de todos os participantes do movimento operário que defendem sincera e honradamente o Poder Soviético e a ditadura do proletariado. Para os bolcheviques da Rússia foi uma felicidade singular disporem de 15 anos para lutar de modo sistemático e até ao fim tanto contra os mencheviques (isto é, os oportunistas e os “centristas”) como contra os “esquerdistas” muito antes da luta directa das massas pela ditadura do proletariado. Esse mesmo trabalho tem que ser feito agora na Europa e na América em ritmo de “marcha forçada”. Algumas pessoas, sobretudo as que figuram entre os frustrados candidatos a chefe, podem insistir durante muito tempo nos seus erros (se lhes, faltam disciplina proletária e “honradez consigo mesmo”); mas as massas operárias, quando chegar a hora, unir-se-ão fácil e rapidamente e unirão todos os comunistas sinceros num só partido, capaz de instaurar o regime soviético e a ditadura do proletariado[1].

II

Os comunistas e os independentes na Alemanha

No folheto expressei a opinião de que o compromisso entre os comunistas e a ala esquerda dos independentes é necessário e útil para o comunismo, mas que não é fácil realizá-lo. Os exemplares dos jornais que recebi depois confirmam ambas as coisas. No n.º 32 de A Bandeira Vermelha, órgão do C.C. do Partido Comunista da Alemanha (Die Rote Fahne, Zentralorgan der Kommun. Partei Deutschlands, Spartacusbund – União de Spártaco – de 26 de Março de 1920), foi publicada uma “declaração” do referido C.C. sobre o putsch de Kapp-Lüttwitz e sobre o “governo socialista”. Essa declaração é absolutamente justa tanto na premissa fundamental quanto na conclusão prática. A premissa fundamental consiste em que, actualmente, não há “base objectiva” para a ditadura do proletariado, porquanto a “maioria dos operários urbanos” apoia os independentes. Conclusão: a promessa de “oposição leal” ao governo “socialista (isto é, renúncia de preparar o seu “derrube através da violência”) excluindo-se os partidos burgueses-capitalistas”.

A táctica, sem dúvida alguma, é justa no fundamental. Mas, se não é necessário que nos detenhamos em pequenas inexactidões de formulação, é impossível, por outro lado, deixar de assinalar que não se pode chamar de “socialista” (numa declaração oficial do Partido Comunista) um governo de social-traidores; que não se pode falar de exclusão “dos partidos burgueses-capitalistas”, quando os partidos dos Scheidemann e dos senhores Kautski-Críspien são pequeno-burgueses-democráticos; que não se pode escrever coisas como o parágrafo 4 da declaração, que diz:

"... Para continuar a ganhar as massas proletárias para o comunismo tem enorme importância, quanto ao desenvolvimento da ditadura do proletariado, uma situação em que a liberdade política possa ser utilizada de modo ilimitado e a democracia burguesa não possa actuar como ditadura do capital."

Tal situação é impossível. Os chefes pequeno-burgueses, os Henderson (Scheidemann) o os Snowden (Críspien) alemães não vão além, nem podem ir, dos limites da democracia burguesa, que, por sua vez, não pode deixar de ser a ditadura do capital. Do ponto de vista dos resultados práticos propostos com absoluta clareza pelo C.C. do Partido Comunista, essas coisas de modo algum deveriam ter sido escritas, erradas por princípio e prejudiciais politicamente. Teria sido suficiente dizer (caso se quer dar demonstrações de cortesia parlamentar): enquanto a maioria dos operários urbanos seguir os independentes, nós, os comunistas, não podemos impedir que esses operários se libertem das últimas ilusões democrático-pequeno-burguesas (ou seja, também “burguesas-capitalistas”) com a experiência do “seu” governo. Isso basta para justificar o compromisso, que é realmente necessário e que deve consistir em renunciar durante certo tempo às tentativas de derrube pela força de um governo que conta com a confiança da maioria dos operários urbanos. No que concerne à agitação diária entre as massas, que dispensa a cortesia oficial, parlamentar, poder-se-ia, naturalmente, acrescentar: deixemos que miseráveis como os Scheidemann e filisteus como os Kautski-Crispien demonstrem com actos até que ponto enganam os operários e a si próprios; o seu governo “puro” realizará com “mais pureza que ninguém” o trabalho de “limpar” as cavalariças dos Augias do socialismo, do social-democratismo. e demais variações da social-traição.

A verdadeira natureza dos actuais chefes do “Partido Social-democrata Independente da Alemanha” (desses chefes de quem se diz, fugindo à verdade, que já perderam toda a influência e que, na realidade, ainda são mais perigosos para o proletariado que os social-democratas húngaros, que se denominavam comunistas e prometiam “apoiar” a ditadura do proletariado) manifestou-se mais de uma vez durante a korniloviada alemã, isto é durante o putsch dos senhores Kapp e Lüttwitz[2]. Exemplo disto, pequeno mas eloqüente, nos é dado pelos artigos de Karl Kautski - Os minutos decisivos (Entscheidende Stunden), publicado em Freiheit (A Liberdade, órgão dos independentes) aos 30 de Março de 1920 - e de Arthur Crispien - Sobre a situação política, no mesmo jornal, n.º. 14 de Abril de 1920. Estes senhores carecem totalmente da capacidade de pensar e raciocinar como revolucionários. São uns choramingas democratas pequeno-burgueses, mil vezes mais, perigosos para o proletariado declarando-se partidários do Poder Soviético e da ditadura do proletariado, pois, de facto, cometerão inevitavelmente uma traição em cada momento difícil e perigoso... “sinceramente”, convencidos de que ajudam o proletariado! Também os social-democratas húngaros, que se baptizaram de comunistas, queriam “ajudar” o proletariado quando, por covardia e baixeza, consideraram desesperada a situação do Poder Soviético na Hungria e se lamuriaram diante dos agentes dos capitalistas da Entente e seus verdugos.

III

Turati e companhia na Itália

Os números do jornal italiano II Soviete a que me referi confirmam tudo que eu disse no folheto a respeito do erro do Partido Socialista Italiano, que tolera em suas fileiras membros desse tipo e, inclusive, um grupo de parlamentares dessa espécie. Mais ainda o confirma uma testemunha desinteressada, o correspondente em Roma do órgão da burguesia liberal inglesa The Manchester Guardian, que no número de 12 de Março de 1920 publicou uma entrevista sua com Turati.

"…O Sr. Turati – diz o correspondente – é de opinião que o perigo revolucionário não é tão grande que possa suscitar temores na Itália. Os maximalistas jogam com o fogo das teorias soviéticas exclusivamente para manter as massas em estado de tensão e excitação. Essas teorias são, contudo, noções puramente fantasistas, programas imaturos, que não servem para ser usados na prática. Servem apenas para manter as classes trabalhadoras em estado de expectativa. Essa gente que as emprega como isca para deslumbrar os proletários, vê-se obrigada a enfrentar uma luta quotidiana para conquistar algumas melhorias económicas, muitas vezes insignificantes, a fim de adiar o momento em que as classes trabalhadoras irão perder as ilusões e a fé nos seus mitos queridos. Dai esse grande surto de greves de todas as grandezas e a qualquer pretexto, inclusive as últimas nos Correios e nas ferrovias, que tornam ainda mais grave a situação, já difícil em si. O país está excitado pelas dificuldades provenientes de seu problema adriático, sente-se esmagado pelo peso da sua dívida externa e pela emissão desmedida de papel-moeda, e, contudo, ainda está muito longe de compreender a necessidade de assimilar a disciplina no trabalho, único factor capaz de restabelecer a ordem e a prosperidade. "

Está claro como a luz do dia que o correspondente inglês deu liberdade à pena e disse uma verdade que, provavelmente, o próprio Turati e os seus defensores, cúmplices e inspiradores burgueses na Itália ocultam e procuram embelezar. Essa verdade consiste em que as ideias e o trabalho político dos senhores Turatí, Treves, Modigliani, Dugoni e C.ª são exactamente como o correspondente inglês esboça. Isso é uma autêntica social-traição. Como é significativa a simples defesa da ordem e da disciplina para os operários que vivem na escravidão assalariada, que trabalham para o enriquecimento dos capitalistas! Como são bem conhecidos por nós, russos, todos esses discursos mencheviques! Como é valiosa a confissão de que as massas estão a favor do Poder Soviético! Como é estúpida e vulgarmente burguesa a sua incompreensão do papel revolucionário das greves que crescem espontaneamente! Sim, sem dúvida, o correspondente inglês do jornal liberal burguês prestou um mau serviço aos senhores Turati & C.ª e confirmou de modo excelente o quanto são justas as exigências do camarada Bordiga e seus amigos do Il Soviete, que reclamam do Partido Socialista Italiano, se este quer realmente estar a favor da III Internacional, a expulsão de suas fileiras, cobrindo-os de opróbrio, dos senhores Turati & C.ª e a sua transformação num Partido Comunista autêntico, tanto pelo nome quanto pelos actos.

IV

Conclusões erradas de premissas justas

De sua justa crítica aos senhores Turati & C.ª, porém, o camarada Bordiga e seus amigos “esquerdistas” tiram a conclusão falsa de que é prejudicial em geral participar do parlamento. Os “esquerdistas”, não podem, nem de longe, apresentar argumentos sérios em defesa dessa opinião. Simplesmente desconhecem (ou tratam de esquecer) os exemplos internacionais de utilização verdadeiramente revolucionária e comunista dos parlamentos burgueses, indiscutivelmente proveitosa para preparar a revolução proletária. Simplesmente não imaginam uma forma “nova” de utilização do parlamentarismo e esbravejam, repetindo-se até ao infinito, contra a utilização “antiga”, não bolchevique.

Nisso, precisamente, reside o seu erro básico. Não só no terreno do parlamentarismo, mas em todos os terrenos da actividade humana, o comunismo deve apresentar (e não poderá fazê-lo sem um trabalho prolongado, persistente e tenaz) algum princípio novo, que rompa de modo radical com as tradições da II Internacional (conservando e desenvolvendo ao mesmo tempo tudo o que esta apresentou de bom).

Tomemos, por exemplo, o trabalho de imprensa. Os jornais, folhetos e manifestos cumprem uma função necessária de propaganda, agitação e organização. Não pode haver um movimento de massas em nenhum país, por menos civilizado que ele seja, sem um aparelho de imprensa. E nem os gritos contra os “chefes”, assim como os juramentos de resguardar a pureza das massas contra a influência dos chefes, podem eliminar a necessidade de utilizar-se nesse trabalho pessoas procedentes dos meios intelectuais burgueses, ou podem livrar-nos da atmosfera e do ambiente democrático-burgueses, “de propriedade privada”, em que se realiza esse trabalho sob o regime capitalista. Passados já dois anos e meio depois do derrube da burguesia e da conquista do Poder político pelo proletariado ainda sentimos em torno de nós essa atmosfera, esse ambiente de relação de propriedade privada, democrático-burguesas, de massas (camponesas, artesãs).

O parlamentarismo é uma forma de trabalho; o jornalismo é outra. O conteúdo pode ser comunista em ambas, e deve sê-lo, se os que trabalham num e noutro sector são verdadeiros comunistas, verdadeiros membros do partido proletário, de massas. Mas, tanto numa como noutra - e em qualquer esfera de trabalho no capitalismo e no período de transição do capitalismo para o socialismo - é impossível evitar as dificuldades e as tarefas originais que o proletariado deve vencer e resolver para utilizar em seu benefício pessoas que procedem de meios burgueses, para alcançar a vitória sobre os preconceitos e a influência dos intelectuais burgueses, para debilitar a resistência do ambiente pequeno-burguês (e, posteriormente, para transformá-lo por completo).

Não vimos, por acaso, em todos os países, até à guerra de 1914-1918, uma extraordinária abundância de exemplos de anarquistas, sindicalistas e demais elementos muito “esquerdistas” que fulminavam o parlamentarismo, que zombavam dos parlamentares socialistas eivados de vulgaridade burguesa, fustigavam seu arrivismo, etc., etc.,. e faziam a mesma carreira burguesa através do jornalismo, através do trabalho nos sindicatos? Acaso não são típicos os exemplos dos senhores Jouhaux e Merrheim, para só falarmos na França?

A infantilidade de “negar” a participação no parlamentarismo consiste, exactamente, em que com esse método tão “simples”, “fácil” e pseudo-revolucionário querem “resolver” a difícil tarefa de lutar contra as influências democrático-burguesas no seio do movimento operário e, na realidade, a única coisa que fazem é fugir de sua própria sombra, fechar os olhos diante das dificuldades e desembaraçar-se delas apenas com palavras. Não há dúvida de que o arrivismo mais desavergonhado, a utilização burguesa dos postos no parlamento, a gritante deformação reformista da acção parlamentar e a vulgar rotina pequeno-burguesa são traços peculiares, habituais e predominantes, engendrados pelo capitalismo em toda parte, e não só fora como também dentro do movimento operário. Mas o capitalismo e o ambiente burguês por ele criado (e que mesmo depois do derrube da burguesia só desaparece muito lentamente, porquanto o campesinato faz a burguesia renascer incessantemente) engendram inevitavelmente em todas as esferas do trabalho e da vida, no fundo, o mesmo arrivismo burguês, o mesmo chauvinismo nacional, a mesma vulgaridade pequeno-burguesa, etc., com insignificantes variações de forma.

Imaginais ser, caros boicotadores e antiparlamentaristas, “terrivelmente revolucionários”, mas, na realidade, vos assustastes diante das dificuldades relativamente pequenas da luta contra as influências burguesas no movimento operário; no entanto, a vossa vitória, isto é, o derrube da burguesia e a conquista do Poder político pelo proletariado criará essas mesmas dificuldades em proporções maiores, incomensuravelmente maiores. Vós vos assustastes como crianças com a pequena dificuldade que amanhã e depois de amanhã tereis, de qualquer maneira, de aprender, e aprender completamente, a vencer as mesmas dificuldades, em proporções imensamente mais consideráveis.

Sob o poder dos Sovietes tentaram penetrar no partido do proletariado, no vosso e no nosso, elementos procedentes da intelectualidade burguesa. Penetrando também nos Sovietes, nos Tribunais, nas Administrações, pois é impossível construir o comunismo sem ser com os materiais humanos criados pelo capitalismo, pois não há outros materiais; é impossível expulsar e aniquilar os intelectuais burgueses, há que vencê-los, transformá-los, assimilá-los, reeduca-los como há que reeducar com uma luta prolongada, com base na ditadura do proletariado, os próprios proletários, que não se desembaraçaram dos preconceitos pequeno-burgueses imediatamente, por um milagre, por graça do Espírito Santo, ou por efeito mágico de uma palavra de ordem, de uma resolução, de um decreto, mas unicamente por meio de uma luta de massas prolongada e difícil contra as influências pequeno-burguesas que existem entre as massas. Sob o Poder Soviético, essas mesmas tarefas que o antiparlamentarista afasta agora com um gesto cheio de orgulho, altivez, leviandade e infantilidade, essas mesmas tarefas ressurgirão dentro dos Sovietes, dentro da administração soviética, entre os “procuradores” soviéticos (eliminamos na Rússia, e fizemos bem em eliminar, a advocacia burguesa, e entretanto ela renasce entre nós sob o disfarce dos “procuradores”"soviéticos”). Entre os engenheiros soviéticos, entre os professores soviéticos e entre os operários privilegiados, quer dizer, os mais qualificados, e colocados em melhores condições, nas fábricas soviéticas observamos um constante renascimento, de absolutamente todos os traços negativos próprios do parlamentarismo burguês, e só mediante uma luta repetida, incansável, prolongada e tenaz baseada na organização e na disciplina proletária estamos vencendo – pouco a pouco – este mal.

É claro que sob o domínio da burguesia é muito “difícil” vencer os costumes burgueses no próprio partido, isto é, no partido operário: é “difícil” expulsar do partido os chefes parlamentaristas acostumados com os preconceitos burgueses e por eles irremediavelmente corrompidos; é “difícil” submeter à disciplina proletária o número absolutamente necessário (mesmo que numa quantidade bem limitada) de pessoas que procedem da burguesia; é “difícil” criar no parlamento burguês uma fracção comunista plenamente digna da classe operária; é “difícil” conseguir que os parlamentares comunistas não se deixem levar pelas frivolidades parlamentaristas dos burgueses, e que se entreguem ao mais que essencial trabalho de propaganda, agitação e organização das massas. Não há dúvida de que tudo isso é “difícil; foi difícil na Rússia e é incomparavelmente mais difícil na Europa Ocidental e na América, onde a burguesia, as tradições democrático-burguesas, etc., são muito mais fortes.

Mas todas essas “dificuldades” são, na verdade, pueris se as compararmos com as tarefas exactamente da mesma espécie que o proletariado terá de resolver inevitavelmente para triunfar, durante a revolução proletária e depois de tomar o Poder. Em comparação com estes problemas, verdadeiramente gigantescos, que surgirão sob a ditadura do proletariado – quando será preciso reeducar milhões de camponeses e pequenos proprietários, centenas de milhares de empregados, funcionários e intelectuais burgueses, para subordiná-los todos ao Estado proletário e extirpar-lhes os hábitos e tradições burgueses – tornar-se de uma facilidade infantil criar sob o domínio da burguesia uma fracção autenticamente comunista do verdadeiro partido proletário no parlamento burguês.

Se os camaradas “esquerdistas” e antiparlamentares não aprenderam agora a vencer uma dificuldade que é até pequena, pode-se dizer com segurança que ou não estarão em condições de instaurar a ditadura do proletariado, não poderão subordinar e transformar em grande escala os intelectuais e instituições burgueses, ou serão obrigados a completar a eucação a toda velocidade, pressa que os fará causar grandes danos à causa proletária, cometer maior número de erros que os que comumente cometeriam, dar mostras de debilidade e incapacidade acima do normal, etc., etc.

Enquanto a burguesia não for derrubada - e, depois de sua queda, enquanto não desaparecerem totalmente a pequena economia e a pequena produção mercantil - o ambiente burguês, os hábitos de propriedade privada e as tradições pequeno-burguesas prejudicarão o trabalho do proletariado tanto dentro como fora do movimento operário, não só na actividade parlamentar, como, inevitavelmente, em todas e em cada uma das esferas da actividade social, em todos os sectores culturais e políticos, sem excepção. E constitui um erro profundíssimo, pelo qual inapelavelmente se deverá pagar mais tarde, procurar livrar-se ou esquivar-se de uma das tarefas desagradáveis ou das dificuldades surgidas numa das esferas de trabalho. É preciso aprender, e aprender plenamente, a dominar todos os aspectos da actividade e do trabalho, sem nenhuma excepção, a vencer em toda parte todas as dificuldades e todos os costumes, tradições e hábitos burgueses. Qualquer outra maneira de encarar a questão é totalmente despida de seriedade, é infantil.

 

12 de Maio de 1920

V

Na edição russa desse livro apresentei com certa inexactidão a conduta do Partido Comunista Holandês em seu conjunto, no terreno da política revolucionária mundial. Por isso, aproveito a oportunidade para publicar a carta abaixo transcrita, carta de nossos camaradas holandeses sobre este problema. Além disso, aproveito também para corrigir a expressão “tribunistas holandeses” que empreguei no texto russo, substituindo-a, pelas palavras “alguns membros do Partido Comunista Holandês”. Carta de Wíjnkoop

 

Moscovo, 30 de junho de 1920

 

Querido camarada Lenine:

 

Graças à sua amabilidade, os membros da delegação holandesa ao II Congresso da Internacional Comunista tivemos a possibilidade de ler seu livro "Esquerdismo”, a Doença Infantil do Comunismo, antes de ser publicado nos idiomas da Europa Ocidental. Nesse livro você ressalta várias vezes a sua desaprovação do papel desempenhado por alguns membros do Partido Comunista Holandês na política internacional,

Devemos protestar, contudo, contra o facto de você atribuir ao Partido Comunista a responsabilidade pelos actos desses membros, o que é extremamente inexacto. Além disso, é injusto, pois esses membros do Partido Comunista Holandês participam muito pouco, ou não participam em absoluto, na actividade quotidiana do Partido; procuram também, directa ou indirectamente, aplicar no Partido Comunista as palavras de ordem oposicionistas, contra as quais o Partido Comunista Holandês e todos os seus órgãos se empenharam e se empenham até hoje na mais enérgica luta.

 

Saudações fraternais

 

(em nome da delegação holandesa)

 

D. I. Wijnkoop



[1] No que concerne à futura fusão dos comunistas de "esquerda”, dos antiparlamentaristas, com os comunistas em geral acrescentarei o seguinte: na medida em que pude conhecer os jornais dos comunistas "de esquerda" e dos comunistas em geral da Alemanha, os primeiros levam a vantagem de saber efectuar melhor a agitação entre as massas. Algo semelhante observei várias vezes - ainda que em menores proporções e em organizações locais isoladas, e não em todo o país - na história do Partido Bolchevique. Em 1907-1908, por exemplo, os bolcheviques "de esquerda" realizavam às vezes e em alguns lugares o trabalho de agitação entre as massas com maior êxito que nós. Isso se explica, em parte, por ser mais fácil aproximar-se das massas com a táctica da negação "pura e simples" numa situação revolucionária, ou quando ainda estão bem vivas as lembranças da revolução. Isso, contudo, não chega a ser um argumento em favor de semelhante táctica. Em todo o caso, não há a menor dúvida de que um Partido Comunista que queira ser realmente a vanguarda, o destacamento avançado da classe revolucionária, do proletariado, e que deseje, além disso aprender a dirigir as massas, não só proletárias como também não proletária, a massa trabalhadora e explorada, tem obrigação de saber fazer propaganda, organizar e agitar da maneira mais acessível, compreensível, clara e viva tanto na "praça" urbana, como nas aldeias. (Nota do autor)
[2] Isso foi explicado, diga-se de passagem, com extraordinária clareza, concreção e exatidão, à maneira marxista, pelo excelente órgão do Partido Comunista Austríaco A Bandeira Vermelha em seus n.ºs de 28 e 30 de Março de 1920 (Die Rote Fahne, Wien 1920, n.ºs 226 und 267; L. L.: Ein neuer Abschnitt der deutschen Revolution). (L.L.: Uma nova etapa da revolução alemã).


publicado por portopctp às 11:05
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