Perto do fim de Fevereiro, ainda antes da conclusão da paz com a Alemanha, o Secretariado do povo da República Soviética Ucraniana ´tinha enviado a Brest-Litovsk uma delegação munida de uma declaração, na qual se dizia prestes a assinar o tratado concluído com a coligação alemã pelo velho Rada de Kiev[1].
O representante do comando alemão de Brest, o famoso Hoffmann, não quis receber a delegação do Secretariado do povo, com a qual, declarou, não via utilidade em realizar conversações de paz.
Ao mesmo tempo, os batalhões de choque alemães e austro-húngaros, de acordo com os destacamentos de gaidamaks[2] de Petlioura e de Vinnitchenko invadiram a Ucrânia soviética.
Não a paz, mas a guerra contra a Ucrânia soviética, tal era o sentido da resposta alemã.
Segundo o tratado assinado pelo velho Rada de Kiev, a Ucrânia devia fornecer à Alemanha, antes do fim de Abril, trinta milhões de pouds[3] de trigo, sem falar aqui da «exploração livre de minério» exigida pela Alemanha.
O secretariado do povo da Ucrânia soviética conhecia, sem dúvida alguma, esta estipulação do tratado e sabia no que se comprometia, ao expressar oficialmente o seu consentimento em assinar a paz nas condições de Vinnitchenko.
Apesar disso, o governo alemão, na pessoa de Hoffmann, recusava entrar em conversações de paz com o Secretariado do povo da Ucrânia, reconhecido por todos os sovietes da Ucrânia, urbanos e rurais. Ao tratado de paz com o Secretariado do povo da Ucrânia, reconhecido pelo povo ucraniano e o único capaz de fornecer «a quantidade necessária» de trigo, ele preferia a aliança com os mortos, a aliança com a Rada destruída e expulsada.
Isto significa que a invasão austro-alemã tem por fim não só obter trigo, mas sobretudo derrubar o poder soviético na Ucrânia e restabelecer o antigo regime burguês.
Isto significa que não só se quer extorquir da Ucrânia milhões de pouds de trigo, mas que ainda se quer suprimir todos os direitos dos operários e camponeses ucranianos, roubando-lhes o poder que eles tinham conquistado com o preço do seu sangue, para o transmitir aos grandes proprietários e aos capitalistas.
Os imperialistas da Áustria e da Alemanha trazem na ponta das suas baionetas um jugo novo e humilhante que não é nada melhor que o antigo jugo tatar. Tal é o sentido da invasão que chega do Ocidente.
O povo ucraniano compreendeu-o com evidência e prepara-se febrilmente para ripostar. A formação dum Exército Vermelho camponês, a mobilização da Guarda Vermelha operária, toda uma série de escaramuças vitoriosas contra os opressores «civilizados» após as primeiras manifestações de pânico, a reconquista de Bakhmatch, de Konotop, de Néjine e o recontro de Kiev, o entusiasmo sempre crescente das massas, que contra os opressores – tal é a resposta da Ucrânia popular à invasão dos escravizadores.
A Ucrânia soviética conduz uma guerra patriótica de libertação contra a opressão estrangeira que vem do Ocidente – tal é o sentido dos acontecimentos que se desenrolam na Ucrânia.
Isto significa que cada poud de trigo e cada pedaço de metal deverão ser tomados pelos alemães após aturados esforços, e depois de uma luta encarniçada com o povo ucraniano.
Isto significa que a Ucrânia deve ser formalmente conquistada para que os alemães recebam trigo e para que possam pôr no trono Petlioura-Vinnitchenko.
«A curta expedição», com a qual os alemães calculavam matar dois coelhos com uma cajadada (receber trigo e destruir a Ucrânia soviética), tem todas as probabilidades de se transformar em guerra prolongada dos escravizadores estrangeiros contra os vinte milhões de ucranianos aos quais querem retirar o trigo e a liberdade.
Será necessário acrescentar que os operários e os camponeses ucranianos não regatearão os seus esforços para sustentar uma luta heroica contra os opressores «civilizados»?
Será ainda necessário demonstrar que a guerra nacional começada na Ucrânia tem todas as probabilidades de poder contar com todo o apoio da parte de toda a Rússia soviética?
Que acontecerá se os operários e os soldados alemães, ao longo dessa guerra, compreenderem finalmente que os cabecilhas da Alemanha não são de modo algum guiados pela preocupação da «defesa da pátria alemã», mas obedecem pura e simplesmente aos instintos insaciáveis duma besta farta até rebentar, e depois de o terem compreendido, tirarem daí as conclusões práticas que se impõem? Não é evidente que a Ucrânia se constitui actualmente como um nó fundamental de toda a actualidade internacional, um nó da revolução operária, começada na Rússia e da contra-revolução imperialista que vem do Ocidente?
A besta imperialista farta até rebentar, matando-se contra a Ucrânia Soviética, não é ao que conduz actualmente a lógica inexorável dos acontecimentos? ...
Izvestia n.º 47, 14 de Março de 1918
[1] Rada de Kiev ou Rada Central – governo contra-revolucionário da Ucrânia (1917-1918) que colaborou activamente com os ocupantes alemães.
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