de Marx, Engels, Lenine, Estaline, Mao Tsé-tung e outros autores
Sábado, 29 de Dezembro de 2012
CHILE: Lição para os Revolucionários de todo o Mundo

Num momento em que parece esquecida a lição do golpe fascista de Pinochet no Chile e de novo há quem grite, como no Chile de Allende, a palavra de ordem vã e enganadora "o povo unido jamais será vencido", relembramos essa lição publicando este editorial do "Zëri i popullit" editado em português nos Cadernos Martins Soares, Edições TM, em Agosto de 1974 e cuja tradução seguimos.

 

OS ACONTECIMENTOS TRÁGICOS DO CHILE

Uma lição para os Revolucionários de todo o Mundo

No Chile, a tempestade contra-revolucionária continua a abater-se sobre as massas trabalhadoras, sobre os patriotas e sobre os combatentes desse país. As forças da direita que ascenderam ao poder após o golpe de Estado de 11 de Setembro instauraram um regime de terror que os próprios nazis teriam invejado. As execuções sumárias ao menor pretexto estão na ordem do dia. Os estádios foram transformados em campos de concentração. Nas praças públicas organizam-se, como outrora faziam os nazis, autos-de-fé de obras marxistas e calcam-se aos pés as culturas progressistas. Os partidos democráticos, os sindicatos e as organizações democráticas foram postos fora da lei, e um obscurantismo medieval abate-se sobre o país. As forças mais sinistras, os reaccionários fanáticos e os agentes do imperialismo americano ocupam a primeira linha da cena política. As liberdades democráticas que o povo tinha conquistado à custa da sua luta e do seu sangue foram abatidas num só dia.

Os acontecimentos do Chile dizem respeito não só ao povo chileno, mas ainda a todas as forças revolucionárias, progressistas e amantes da paz de todo o mundo. Assim, não são só os revolucionários e os trabalhadores do Chile que devem tirar conclusões destes acontecimentos, mas também os revolucionários e os trabalhadores dos outros países. Não se trata aqui, evidentemente, de analisar pormenores, momentos ou factos particulares essencialmente nacionais da revolução chilena, lacunas e erros que se situam no quadro interno dessa revolução.

Trata-se tão só das leis gerais, às quais nenhuma revolução se pode furtar e que toda a revolução deve aplicar. Trata-se de considerar, à luz dos acontecimentos do Chile, as diversas concepções relativas às questões da teoria e da prática da revolução para definir quais são as teses revolucionárias e quais são as teses oportunistas, e determinar, por fim, quais são as atitudes e os actos que contribuem para a revolução e quais são os que contribuem para a contra-revolução.

Em primeiro lugar, convém dizer que o período durante o qual o governo de Allende esteve no poder não será fácil de apagar da vida do povo chileno e de toda a história da América Latina. Fazendo-se intérprete das reivindicações e das aspirações das mais largas massas populares, o governo de Unidade Popular adoptou uma série de medidas e introduziu uma série de reformas que visavam reforçar a liberdade e a independência nacional, o desenvolvimento independente da economia do país. Esse governo assentou um rude golpe na oligarquia interna e nos monopólios americanos que ocupavam os postos chaves e que faziam a lei do país. Esta linha progressista e anti-imperialista tinha por inspirador o presidente Allende, uma das mais nobres figuras que viram o dia na América Latina, eminente patriota e combatente democrata. Sob a sua direcção, o povo chileno lutou pela reforma agrária, pela nacionalização das sociedades estrangeiras, pela democratização da vida do país e para subtrair o Chile à influência americana. Allende sustentou vigorosamente os movimentos de libertação anti-imperialistas da América Latina e fez do seu país um asilo para todos os combatentes da liberdade perseguidos pelos gorilas e pelas juntas militares da América Latina. Apoiou sem reservas os movimentos de libertação e anti-imperialistas dos povos e foi solidário até ao fim com a luta dos povos vietnamita, cambodjano, palestiniano, etc..

Poderiam os grandes latifundiários chilenos que viam os seus domínios distribuídos pelos camponeses pobres perdoar-lhe esta política e esta acção? Poderiam os fabricantes de Santiago que foram expulsos das suas fábricas nacionalizadas suportar isso? Ou ainda, poderiam as sociedades americanas, que haviam perdido o seu controlo sobre a economia chilena, resignar-se a um tal estado de coisas? Mais cedo ou mais tarde, era certo, eles unir-se-iam para derrubar o regime estabelecido e recuperar os privilégios perdidos. Mas chegados aqui acabamos naturalmente por perguntar: será que Allende tinha consciência da atmosfera que o rodeava, desconfiaria ele dos «complots» que contra ele se tramavam? Sem dúvida que sim. A reacção agia às claras. Ela mandava abater ministros, funcionários dos partidos governamentais e simples empregados. Por sua instigação e sob a sua direcção foram organizadas as greves contra-revolucionárias dos camionistas, dos comerciantes, dos médicos e das outras camadas pequeno-burguesas. Por fim, experimentou as suas forças com o golpe de Estado militar falhado de Junho. Foi então que foram descobertos certos planos da CIA para derrubar o governo legal.

Estes ataques da reacção interna e externa deveriam ter bastado para dar o alarme e para fazer reflectir. Deveriam ter bastado para fazer aplicar a grande lei de toda a revolução, a saber, que à violência contra-revolucionária se torna necessário opor a violência revolucionária. O presidente Allende não fez nada, não agiu. Evidentemente que ele não pode ser censurado por ter tido falta de ideais. Estava dedicado de toda a sua alma à causa pela qual lutava, e acreditava inteiramente na justeza dessa causa. Não lhe faltava coragem e estava decidido, como o demonstrou, ao sacrifício supremo. Mas a sua tragédia consiste no facto de que acreditava poder, pelo argumento da razão, convencer as forças reaccionárias a renunciarem à sua actividade e a abandonarem as suas posições e os seus privilégios de outrora.

No Chile, julgava-se que as antigas tradições mais ou menos democráticas, o parlamento, a actividade legal dos partidos políticos, a existência de uma imprensa livre eram outros tantos obstáculos intransponíveis para qualquer força reaccionária que tentasse tomar o poder pela violência. Ora a realidade demonstrou o contrário. O golpe de Estado das forças de direita provou que burguesia tolera certas liberdades na medida em que os seus interesses essenciais não sejam atingidos, mas logo que constata que esses interesses estão em perigo, ela abandona toda e qualquer consideração de ordem moral.

As forças revolucionárias e progressistas do Chile sofreram, neste momento, um revés. Isso é grave, mas temporário. Pode-se derrubar um governo constitucional, pode-se matar pessoas aos milhares e criar campos de concentração, mas não se pode matar nem aprisionar o espírito da liberdade, o espírito de revolta do povo. O povo resiste, o que prova que as massas trabalhadoras não se resignam à derrota, que elas entendem tirar conclusões deste revés e avançar na via revolucionária. A luta de libertação contra a reacção e o imperialismo tem caminhos sinuosos, tem os seus altos e baixos. Não restam dúvidas de que o povo chileno, que tantas vezes deu provas de um elevado patriotismo, que está tão dedicado à liberdade e à justiça, que odeia de tal modo o imperialismo e a reacção, saberá mobilizar as suas forças, bater-se de espada desembainhada contra o inimigo e alcançar a vitória final.

Mas o que para os chilenos, é uma grande infelicidade, mas uma infelicidade provisória, constitui, para os revisionistas uma derrota em toda a linha, um clamoroso fracasso das suas teorias oportunistas. Os revisionistas, desde os de Moscovo até aos italianos, franceses e outros, citavam a «experiência chilena» como um exemplo concreto das suas «novas» teorias sobre «a via pacífica da revolução», sobre a transição para o socialismo sob a direcção de vários partidos, sobre a suavização da natureza do imperialismo, sobre a extinção da luta de classes nas condições da coexistência pacífica, etc.. A imprensa revisionista especulava muito sobre «a via chilena», como uma ilustração das teses oportunistas do 20.º Congresso do PCUS e dos programas reformistas e utópicos de tipo togliattista. Na «experiência chilena» os revisionistas viam tanto uma demonstração das suas teorias sobre a «via parlamentar» como também o exemplo «clássico» da edificação do socialismo sob a direcção de uma coligação de partidos marxistas e burgueses. Esperavam ver demonstrado que se podia passar para o socialismo não só sem destruir o antigo aparelho de Estado burguês como também com a ajuda deste, não só sem instaurar um poder revolucionário, como também negando-o.

As teorias dos revisionistas soviéticos em primeiro lugar, dos revisionistas italianos, franceses e dos seus partidários sobre a «coexistência pacífica» e «a via pacífica parlamentar» são responsáveis numa medida considerável pela propagação de ilusões pacifistas e de atitudes oportunistas para com a burguesia, e pelo abandono da luta revolucionária.

Em todos os documentos-programas dos partidos revisionistas do Ocidente, adoptados após o 20.º Congresso do PCUS, concedeu-se a primazia absoluta à «via parlamentar» da passagem do capitalismo ao socialismo, e excluiu-se por completo a via não pacífica. Deste modo, na prática, estes partidos renunciaram definitivamente à luta revolucionária e aplicam-se a pôr em funcionamento reformas vulgares de carácter económico ou administrativo restrito. Esses partidos transformaram-se em partidos da oposição burguesa e apresentaram-se como candidatos para assegurarem a gestão das riquezas da burguesia como até agora o fizeram os antigos partidos social-democratas. O Partido Comunista do Chile, uma das forças motrizes do governo de Allende era um caloroso partidário das teses krutchévistas sobre a «transição pacífica» tanto na teoria como na prática. Seguindo à regra as instruções de Moscovo, pretendia que tanto a burguesia como o imperialismo se tornaram mais moderados, tolerantes, razoáveis, e que nas pretensas novas condições de classe criadas pelo actual desenvolvimento mundial, eles já não estão em condições de passar à contra-revolução.

Ora, como o caso do Chile mais uma vez o demonstrou, essas teorias, e outras com elas aparentadas, têm por consequência tornarem as massas indecisas, desorientá-las, enfraquecer o seu espírito revolucionário, desmobilizá-las face às ameaças da burguesia, paralisar a sua capacidade de empreender acções revolucionárias decisivas contra os planos e as acções contra-revolucionárias da burguesia.

Como os verdadeiros partidos marxistas-leninistas tinham previsto e como o tempo o veio a demonstrar, os revisionistas eram contra a revolução e visavam converter esse país, como fizeram da União Soviética, num país capitalista e transformá-lo de base da revolução em base da contra-revolução. Desde há longo tempo que eles trabalham no sentido de semear a confusão nas fileiras dos revolucionários e de torpedear a revolução. Por toda a parte e em todos os casos eles agiram como bombeiros das grandes batalhas revolucionárias e da fogueira das lutas de libertação nacional. «Por demagogia, os revisionistas fingem ser pela revolução, disse o camarada Enver Hoxha, mas pelos seus objectivos e pelos seus actos, procuram abafá-la à nascença, ou sabotá-la quando ela eclode».

Afastando-se do marxismo-leninismo, abandonando os interesses de classe do proletariado, traindo a causa de libertação nacional dos povos, os revisionistas foram conduzidos a uma negação completa da revolução. Reduziram a teoria e a prática da revolução a algumas reivindicações reformistas que podem ser realizadas no quadro da existência do regime capitalista e sem tocar nos seus fundamentos. Os revisionistas procuram demonstrar que não existe agora limite entre a revolução e as reformas, que nas condições actuais da evolução mundial já não há necessidade de perturbações revolucionárias dado que a revolução técnica e científica teria pretensamente suprimido as contradições sociais de classe da sociedade burguesa e constituiria um meio de integração do capitalismo no socialismo, um meio de criar uma «nova sociedade» que comportará o bem-estar para todos. Seguindo esta lógica desconcertante, já não se pode falar portanto de exploradores e explorados, a revolução não serve para nada e, do mesmo modo, é inútil destruir o aparelho de Estado burguês e instaurar a ditadura do proletariado.

Sob a capa do leninismo e do seu desenvolvimento criador, os revisionistas fixaram-se por objectivo dominarem o mundo transformando-se assim em social-imperialistas. Começaram com a coexistência pacífica krutchévista, para continuarem com a competição pacífica, pelo mundo sem armas e sem guerras, pela via parlamentar, etc., e terminaram por instaurar o capitalismo na União Soviética e por fazer degenerar o socialismo em social-imperialismo.

Por isso eles eram contra a revolução e a luta dos povos pela sua libertação, contra os partidos comunistas que se mantiveram fiéis ao marxismo-leninismo e que o defenderam. Para atingir esse objectivo, e em particular para abafar as lutas de libertação e os movimentos revolucionários, os revisionistas fundaram toda a sua teoria sobre a «via pacífica». Revendo o marxismo na questão fundamental que constitui a teoria da revolução, e prégando as suas teses oportunistas, esforçavam-se por convencer os trabalhadores a renunciarem à luta revolucionária, a submeterem-se à burguesia e a aceitarem a escravatura capitalista.

Por outro lado, a «coexistência pacífica» proclamada pelos dirigentes soviéticos como linha principal da sua política estrangeira, linha que procuraram impor a todo o movimento comunista e de libertação nacional do mundo, não era mais do que um plano estratégico a culminar num largo conluio com o imperialismo com o fim de abafar os movimentos revolucionários e as lutas de libertação, de preservar e de estender as suas esferas de influência respectivas. Os revisionistas queriam utilizar, como o fizeram, esta espécie de «coexistência» que convinha perfeitamente ao imperialismo e à burguesia, como uma grande diversão destinada a desarmar ideológica e politicamente as massas, a adormecer a sua vigilância revolucionária, a desmobilizá-las e a deixá-las sem defesa face aos futuros ataques dos imperialistas e dos social-imperialistas.

Os revisionistas soviéticos e os outros revisionistas que conseguiram usurpar o poder, minaram o partido despojando-o da teoria revolucionária, rejeitaram e calcaram aos pés todas as normas leninistas, abriram caminho ao liberalismo e à degenerescência. Propagando as suas teses anti-marxistas segundo as quais «o capitalismo se integra no socialismo», que partidos não proletários se podem tornar «portadores» dos ideais do socialismo e em «dirigentes» da luta pelo socialismo, que países onde a burguesia nacional está no poder «marcham» igualmente para o socialismo, os revisionistas procuraram não só negar a teoria sobre o partido de vanguarda da classe operária, mas quiseram também deixar a classe operária sem direcção face aos ataques organizados da burguesia e da reacção.

A história demonstrou – e os acontecimentos do Chile, onde ainda não se tratava de socialismo mas sim de um regime democrático, de novo o provaram claramente – que a instauração do socialismo pela via parlamentar é absolutamente impossível. Convém sublinhar em primeiro lugar que até agora nunca se viu a burguesia permitir aos comunistas adquirirem a maioria no parlamento e formarem governo. E mesmo se já aconteceu, num caso particular, os comunistas terem conseguido assegurar um equilíbrio a seu favor no parlamento e entrar no governo, isso nunca alterou o carácter burguês nem do parlamento nem do governo, e as suas acções nunca chegaram ao ponto de quebrar o antigo aparelho de Estado burguês para o substituir por um novo.

Em condições em que o aparelho burocrático está entre as mãos da burguesia, a constituição de uma «maioria parlamentar» que esteja decidida a mudar os destinos do país é impossível, e mesmo se admitíssemos essa eventualidade resultaria daí uma situação incerta. O poder político, económico e as forças armadas formam o corpo principal do aparelho de Estado da burguesia. Ora, enquanto essas forças permanecerem intactas, isto é, enquanto elas não forem dissolvidas e substituídas por novas forças, enquanto o velho aparelho da polícia e os serviços secretos forem mantidos, a existência de um parlamento ou de um governo democrático estará sempre em perigo. Não só o exemplo do Chile, mas também o de muitos outros países provaram que os golpes de Estado contra-revolucionários foram precisamente organizados pelas forças armadas comandadas pela burguesia.

Os revisionistas krutchévistas baralharam à sua vontade as teses tão claras e precisas de Lenine sobre a participação dos comunistas no parlamento burguês e sobre a tomada do poder das mãos da burguesia, e criaram uma grande confusão a esse respeito. Sabe-se que em certos e determinados casos, Lenine admitia a participação dos comunistas no parlamento burguês. Mas ele não via nessa participação mais do que uma ocasião de conseguir uma tribuna para defender os interesses da classe operária, para denunciar a burguesia e o seu poder e para obrigar a burguesia a adoptar algumas medidas em favor dos trabalhadores. Todavia, Lenine indicava que é necessário ao mesmo tempo que se luta para utilizar o parlamento no interesse da classe operária, afastar simultaneamente as ilusões parlamentaristas e a falsidade do parlamentarismo burguês. A participação no parlamentarismo burguês, indicava Lenine, é necessária ao partido do proletariado revolucionário para esclarecer as massas, e isso consegue-se através das eleições e da luta entre os partidos no parlamento. Mas limitar a luta de classes à luta no seio do parlamento ou ainda considera-la como a forma superior e decisiva à qual se submetem todas as outras formas de luta, isso significa passar de facto para o lado da burguesia, contra o proletariado.

Criticando o «cretinismo parlamentar» dos representantes da II Internacional, que tinham feito dos seus partidos, partidos eleitorais, Lenine mostrou claramente onde leva o parlamentarismo em ideologia, em política e na prática. Sublinhava que «o Estado proletário (a ditadura do proletariado) não pode substituí-lo (ao Estado burguês) através da sua «extinção», mas, regra geral, só pela revolução violenta». Sublinhava que «a necessidade de educar de forma sistemática as massas no espírito dessa ideia, no espírito da ideia da revolução pela violência, constitui a base de toda a doutrina de Marx e Engels».

Atendo-se ainda à ideia da «via parlamentar» os revisionistas modernos mais não fazem do que seguir cegamente a via de Kautsky e seus comparsas. Ora, quanto mais se embrenham nessa via, mais são denunciados e mais derrotas sofrem. Toda a história do movimento comunista e operário internacional demonstrou que a revolução pela violência, o derrube do aparelho de Estado burguês e a instauração da ditadura do proletariado constituem a lei geral da revolução proletária. «O acesso ao comunismo – sublinhava Lenine – realiza-se poi meio da ditadura do proletariado, e não pode ser de outra forma visto que não existe outra classe nem outra via para esmagar a resistência dos exploradores capitalistas». Na etapa do imperialismo, tanto no seu início como actualmente, existiu e existe ainda o perigo de que se instaure uma ditadura militar fascista de cada vez que os monopólios capitalistas sintam os seus interesses ameaçados.

Para mais, foi provado em particular desde o fim da Segunda Guerra Mundial até aos nossos dias, que o imperialismo americano, o imperialismo britânico e consortes ajudaram as burguesias de diversos países a afastarem os governos ou a esmagarem as forças revolucionárias que, de uma forma ou de outra, põem em perigo as bases do sistema capitalista.

Enquanto o imperialismo existir, existe também a possibilidade de o ver intervir nos assuntos internos dos outros países, tramar conjuras contra-revolucionárias, derrubar governos legais, liquidar as forças democráticas e progressistas e abafar a revolução sendo dado que ele dispõe de uma base para isso e que a sua política se mantém inalterada.

É o imperialismo americano que tem mantido e mantém no poder regimes fascistas em Espanha e em Portugal, é ele que encoraja a ressurreição do fascismo alemão e do militarismo japonês, é ele que sustenta os regimes racistas da África do Sul e da Rodésia e mantém no seu país a discriminação em relação aos negros, que apoia os regimes reaccionários da Coreia do Sul e dos fantoches de Saigão e de Pnom Penh, que encoraja a agressão sionista e ajuda Israel a conservar os territórios árabes ocupados. Foi dos Estados Unidos que partiram e continuam a partir os ventos tempestuosos do anticomunismo, da opressão nacional e da exploração capitalista. Na América Latina, salvo raras excepções, o imperialismo americano colocou no poder por toda a parte regimes fascistas tirânicos, que exploram e oprimem o povo impiedosamente. Neste continente, todas as armas com que se atira sobre manifestantes, com que se matam os operários e camponeses, são de fabricação americana e foram entregues pelos americanos.

O golpe de Estado fascista no Chile não é somente obra da reacção interna mas também do imperialismo. Durante os três anos em que o presidente Allende esteve no poder as forças chilenas da direita encorajadas, organizadas e impulsionadas pelos Estados Unidos, não cessaram de intensificar a sua acção contra-revolucionária. A reacção chilena e os monopólios americanos vingaram-se do presidente Allende e da política progressista e anti-imperialista que ele prosseguia. A acção de sapa dos partidos da direita e de todas as forças reaccionárias, os seus actos de violência e de terror eram perfeitamente sincronizados com as pressões exercidas do exterior pelos monopólios americanos, com o bloqueio económico e com a luta política do governo americano contra o Chile. Por trás da Junta Americana encontrava-se a CIA, a mão criminosa que fomentou um tão grande número de golpes de Estado na América Latina, na Indonésia, no Irão, etc.. Os acontecimentos do Chile mostraram uma vez mais a verdadeira face do imperialismo americano. Demonstraram de novo que ele continua a ser o pior inimigo dos povos, o inimigo feroz da justiça e do progresso, das lutas pela liberdade e pela independência, o inimigo da revolução e do socialismo. Mas a contra-revolução no Chile não é somente obra das forças reaccionárias declaradas e do imperialismo americano. O governo de Allende foi igualmente sabotado e combatido com a maior aspereza pelos democratas-cristãos e as outras correntes da burguesia, ditos radicais-democratas, que são outras tantas forças semelhantes àquelas com as quais os partidos comunistas de Itália e de França pretendem avançar para o socialismo através de reformas e seguindo a via pacífica parlamentar. O partido de Frey não tem somente uma «responsabilidade moral» como se pretenderia fazer crer porque se recusou a negociar e a colaborar com o governo de Allende ou ainda porque não deu provas de lealdade para com o governo legal. Ele é responsável por ter sabotado por todos os meios a actividade normal do governo, por se ter associado às forças de direita para torpedear a economia estatizada e semear a confusão no país, e por se ter entregue a numerosos actos de subversão. Este partido lutou para criar uma atmosfera política e um estado de espírito precursores da contra-revolução.

Os revisionistas soviéticos estão também implicados nos acontecimentos no Chile. Milhares de fios ligam os dirigentes soviéticos às conjuras e às intrigas do imperialismo americano. Eles não quiseram ajudar o governo de Allende quando ele estava no poder porque teriam de se confrontar com o imperialismo americano e de entrar em conflito com ele. Não foi só por ocasião dos acontecimentos do Chile que se viu manifestarem-se essas atitudes dos revisionistas soviéticos para com o Chile e sobre a teoria da revolução. Elas já se tinham manifestado quando dos acontecimentos trágicos registados no Irão. Quando a reacção interna desse país atacou repetidas vezes o partido Tudeh, matando e lançando na prisão centenas e milhares de comunistas e de revolucionários progressistas, os revisionistas soviéticos não se deram ao trabalho de mexerem uma palha, e ainda menos de romperem as relações diplomáticas com eles. O mesmo aconteceu aquando dos acontecimentos dramáticos da Indonésia em que foram massacrados cerca de 50 000 comunistas e progressistas. Estas atitudes dos revisionistas soviéticos não são fortuitas. Testemunham do seu conluio camuflado com os imperialistas americanos, conluio que visa sabotar os movimentos revolucionários e abafar as lutas de libertação dos povos.

Esta atitude lança igualmente alguma luz sobre o carácter demagógico da espalhafatosa ruptura por parte da União Soviética das relações diplomáticas com o Chile. Esta é a realidade. E as tiradas dos revisionistas sobre a sua pretensa solidariedade com o povo chileno e todos os outros slogans demagógicos não são senão máscaras para mistificarem a opinião pública e para esconderem a sua traição à revolução e aos movimentos de libertação dos povos.

O governo soviético rompeu as relações diplomáticas com o Chile para fazer crer que está ao lado das vítimas da reacção, do lado daqueles que lutam pela liberdade e pela independência, e que os revisionistas defendem os regimes progressistas. Através desta manobra «diplomática», os dirigentes soviéticos procuram amortecer o golpe e abafar o eco da Conferência dos países não alinhados em Argel, onde a União Soviética foi denunciada como uma superpotência unicamente preocupada com os seus interesses hegemónicos e que desde há longo tempo abandonou a política de apoio à revolução e aos movimentos de libertação.

Os revisionistas apoiam certos regimes progressistas enquanto estes servem os seus interesses imperialistas. Mas não vão mais longe. E o que é mais, não têm vergonha de manter relações diplomáticas regulares com um regime tão desacreditado e falido como o é o de Lon Nol, ao mesmo tempo que não dizem uma palavra sobre a grande luta de libertação do povo cambodjano. Mas a ruptura das relações diplomáticas com o Chile visa objectivos mais concretos, nomeadamente impedir a embaixada da União Soviética de dar asilo político aos revolucionários perseguidos, como o fizeram as embaixadas de outros países como o México, a Argentina, o Perú, etc..

Os acontecimentos do Chile fizeram ressaltar uma vez mais toda a terrível tragédia que vivem os povos da América Latina. Puseram igualmente em evidência os defeitos, as lacunas e as fraquezas da revolução nesse continente, as vias muito difíceis e penosas que ela percorre. Tais acontecimentos não constituem uma lição somente para os revolucionários da América Latina. Todos os revolucionários do mundo, todos os que lutam pela libertação nacional e social, contra a intervenção e a violência do imperialismo, pela democracia e progresso da humanidade, devem tirar daí ensinamentos. Isso diz também respeito aos revolucionários da União Soviética que se devem erguer para derrubar os governantes revisionistas e todas as teorias oportunistas e anti-leninistas. Os revolucionários da Itália, da França e dos outros países capitalistas evoluídos devem também tirar lições dos acontecimentos do Chile. Devem combater o revisionismo com determinação e rejeitar as teorias reacionárias das «vias parlamentares pacíficas» propagadas pelos togliattistas e outros revisionistas.

Estamos convencidos de que os acontecimentos do Chile, o ataque fascista contra as vitórias democráticas do povo chileno, a intervenção brutal do imperialismo americano e o apoio que ele dá à junta militar incitarão todos os povos do mundo a agudizar a sua vigilância e a rejeitar firmemente os slogans demagógicos dos imperialistas-revisionistas e dos oportunistas de todos os géneros, a mobilizar as suas forças para defender corajosamente a sua liberdade e a sua independência nacional, a paz e a segurança.



publicado por portopctp às 14:16
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