de Marx, Engels, Lenine, Estaline, Mao Tsé-tung e outros autores
Sábado, 23 de Junho de 2007
Que fazer? II - A espontaneidade das massas e a consciência da social-democracia

Início

I Parte

Dissemos que era necessário desenvolver o nosso movimento, infinitamente maior e mais profundo que aquele de 1870-1880, com o mesmo espírito de decisão e a mesma energia sem limites. De facto, até ao presente parece que ninguém ainda duvidou de que a força do movimento actual está no despertar das massas (e principalmente do proletariado industrial), e de que a sua fraqueza reside na falta de consciência e de espírito de iniciativa dos dirigentes revolucionários.

Nestes últimos tempos, contudo, foi feita uma descoberta espantosa, que ameaça subverter todas as ideias adquiridas sobre este ponto. Esta descoberta é obra do Rabótcheie Dielo que, na sua polémica com o Iskra e a Zaria, não se limitou a objecções particulares e tentou reconduzir o "desacordo geral" à sua raiz mais profunda: a uma "apreciação diferente da importância relativa do elemento espontâneo e do elemento conscientemente metódico". A tese de acusação do Rabótcheie Dielo expressa-se da seguinte forma: "subestimação da importância do elemento objectivo ou espontâneo do desenvolvimento"[1]. Ao que respondemos: essa tese é tão significativa que, se a polémica com o Iskra e a Zaria não tivesse outro resultado senão o de levar o Rabótcheie Dielo a descobrir esse "desacordo geral", esse resultado, por si só, dar-nos-ia grande satisfação, pois esclarece nitidamente o fundo das divergências teóricas e políticas que dividem, hoje, os social-democratas russos.

Além disso, a questão das relações entre a consciência e a espontaneidade tem um enorme interesse geral, e exige um estudo detalhado.

 

a) Ascensão do espontaneísmo

No capítulo anterior assinalámos o entusiasmo generalizado da juventude russa instruída pela teoria marxista, por volta de 1895. Foi também nessa mesma época, que as greves operárias, após a famosa guerra industrial de 1896 em Petersburgo, se revestiram de um carácter geral. A sua expansão por toda a Rússia atestava claramente a profundidade do movimento popular que de novo surgia, e se falamos do "elemento espontâneo", é certamente nesse movimento de greves que devemos, antes de tudo, considerá-lo. Mas, há espontaneidade e espontaneidade. Houve, na Rússia, greves nas décadas de 1870 e 1880 (e mesmo na primeira metade do século XIX), que foram acompanhadas da destruição "espontânea" de máquinas etc. Comparadas a esses "tumultos", as greves após 1890 poderiam mesmo ser qualificadas de "conscientes", tal foi o progresso do movimento operário nesse intervalo. Isto mostra-nos que o "elemento espontâneo", no fundo, não é senão a forma embrionária do consciente. Os tumultos primitivos já traduziam um certo despertar da consciência: os operários, perdiam a sua crença costumeira na perenidade do regime que os oprimia; começavam... não direi a compreender, mas a sentir a necessidade de uma resistência colectiva, e rompiam deliberadamente com a submissão servil às autoridades. Era, portanto, mais uma manifestação de desespero e de vingança que de luta. As greves após 1890 mostram-nos melhor a emersão da consciência: formulam-se reivindicações precisas, procura-se prever o momento favorável, discutem-se certos casos e exemplos de outras localidades etc. Se os tumultos constituíam simplesmente a revolta dos oprimidos, as greves sistemáticas já eram o embrião, mas nada além do embrião, da luta da classe. Tomadas em si mesmas, essas greves constituíam uma luta sindical, mas não ainda social-democrata; marcavam o despertar do antagonismo entre operários e patrões; porém, os operários não tinham, e não podiam ter, consciência da oposição irredutível dos seus interesses a toda a ordem política e social existente, isto é, a consciência social-democrata. Nesse sentido, as greves após 1890, apesar do imenso progresso que representaram em relação aos "tumultos", continuavam a ser um movimento essencialmente espontâneo.

Os operários, já dissemos, não podiam ter ainda a consciência social-democrata. Esta só podia chegar até eles a partir de fora. A história de todos os países atesta que, pelas próprias forças, a classe operária não pode chegar senão à consciência sindical, isto é, à convicção de que é preciso unir-se em sindicatos, conduzir a luta contra os patrões, exigir do governo essas ou aquelas leis necessárias aos operários etc.[2] Quanto à doutrina socialista, esta nasceu das teorias filosóficas, históricas, económicas elaboradas pelos representantes instruídos das classes proprietárias, pelos intelectuais. Os fundadores do socialismo científico contemporâneo, Marx e Engels, pertenciam eles próprios, pela sua situação social, aos intelectuais burgueses. Da mesma forma, na Rússia, a doutrina teórica da social-democracia surgiu de maneira completamente independente do crescimento espontâneo do movimento operário; foi o resultado natural, inevitável do desenvolvimento do pensamento entre os intelectuais revolucionários socialistas. A época de que falamos, isto é, por volta de 1895, essa doutrina constituía não apenas o programa perfeitamente estabelecido do grupo "Libertação do Trabalho", mas também conquistara para si a maioria da juventude revolucionária da Rússia.

Assim, houve ao mesmo tempo um despertar espontâneo das massas operárias, despertar para a vida consciente e para a luta consciente, e uma juventude revolucionária que, armada da teoria social-democrata, buscava aproximar-se dos operários. Quanto a isso, é particularmente importante estabelecer este facto esquecido com frequência (e relativamente pouco conhecido), de que os primeiros social-democratas desse período, que se dedicavam com ardor à agitação económica (contando, para isso, com as indicações verdadeiramente úteis do folheto "Sobre a Agitação", à época ainda manuscrito) longe de considerar essa agitação como sua tarefa única, atribuíam desde o começo à social-democracia russa as grandes tarefas históricas, em geral, e a tarefa do derrube da autocracia, em particular. Assim, o grupo dos social-democratas de Petersburgo, que fundou a "União de Luta para Libertação da Classe Operária" redigiu, já em fins de 1895, o primeiro número de um jornal intitulado Rabótcheie Dielo. Pronto para ser impresso, esse número foi apreendido pela polícia numa busca efectuada na noite de 8 para 9 de Dezembro de 1895, em casa de um dos membros do grupo, Anatoly Alexeyevich Vaneyey [3], de forma que o Rabótcheie Dielo do primeiro período não pôde ver a luz do dia. O editorial desse jornal (que, talvez, em trinta anos uma revista como a Russkaia Starina exumará dos arquivos do departamento da polícia) expunha as tarefas históricas da classe operária na Rússia, entre as quais se colocava em primeiro plano a conquista da liberdade política. Seguiam-se um artigo, "Em que pensam os nossos ministros?" sobre o saque dos Comités de instrução elementar pela polícia, bem como uma série de artigos de correspondentes, não só de Petersburgo, como de outras localidades da Rússia (por exemplo, sobre um massacre de operários na província de Iaroslavl). Assim, se não me engano, esse "primeiro ensaio" dos social-democratas russos de 1890-1900 não era um jornal estritamente local, e ainda menos de carácter "económico", visava unir a luta grevista ao movimento revolucionário dirigido contra a autocracia e levar todos os oprimidos, vítimas da política do obscurantismo reaccionário, a apoiar a social-democracia. E para quem quer que conheça um pouco o estado do movimento nessa época, está fora de dúvida que um jornal como esse encontrou toda a simpatia dos operários da capital e dos intelectuais revolucionários, e teve a maior difusão. O fracasso do empreendimento provou simplesmente que os social-democratas de então eram incapazes de corresponder às exigências do momento, por falta de experiência revolucionária e de preparação prática. O mesmo se deve dizer do Rabótchaia Listok de São Petersburgo, e sobretudo da Rabótchaia Gazeta e do Manifesto do Partido Operário Social-Democrata da Rússia, fundado na Primavera de 1898. Subentenda-se que não nos passa pela cabeça a ideia de censurar os militantes da época pela sua falta de preparação. Mas, para aproveitar a experiência do movimento e daí extrair lições práticas, é preciso considerar em toda a extensão as causas e a importância deste ou daquele erro. Por isso, é extremamente importante estabelecer que uma parte (talvez mesmo a maioria) dos social-democratas militantes de 1895-1898 considerava, com justa razão, possível naquela época, mesmo no começo do movimento "espontâneo", preconizar um programa e uma táctica de combate mais extensos[4]. Ora, a falta de preparação entre a maior parte dos revolucionários, sendo um fenómeno perfeitamente natural, não podia dar lugar a qualquer apreensão particular. A partir do momento em que as tarefas eram bem definidas; a partir do momento em que se possuía suficiente energia para tentar de novo realizá-las, os fracassos momentâneos constituíam apenas meio mal. A experiência revolucionária e a habilidade de organização são coisas que se adquirem. É preciso apenas desenvolver em nós mesmos as qualidades necessárias! É preciso que tenhamos consciência dos nossos defeitos, o que, no trabalho revolucionário, já é mais que meio caminho para os corrigir.

Mas, o que era meio mal tornou-se um mal verdadeiro, quando esta consciência começou a obscurecer-se (porém, ela era bastante viva entre os militantes dos grupos acima mencionados), quando surgiram pessoas – e mesmo órgãos social-democratas – prontas a erigir os defeitos em virtudes, e tentando mesmo justificar teoricamente a sua idolatria, o seu culto do espontâneo. É tempo de fazer o balanço dessa tendência, caracterizada de maneira muito inexacta pelo termo "economismo", demasiado estreito para exprimir o seu conteúdo.

 

b) O culto da espontaneidade. "Rabótchaia Mysl"

Antes de passar às manifestações literárias desse culto, assinalaremos o seguinte facto característico (cuja fonte foi acima mencionada) de um desacordo entre as duas futuras tendências da social-democracia russa que lança uma certa luz sobre o seu nascimento e o seu crescimento entre os camaradas militantes de Petersburgo. No início de 1897, A. Vaneiev e alguns dos seus camaradas tiveram ocasião de participar, antes da sua partida para o exílio, de uma reunião privada, onde se encontraram os "velhos" e os "jovens " membros da "União de Luta para a Libertação da Classe Operária". A conversa girou principalmente sobre a organização e, em particular, sobre os "estatutos das caixas operárias", publicados sob a forma definitiva no número 9-10 do Listok “Rabotnika” (p. 46). Entre os "velhos" (os "dezembristas", como eram chamados em tom de gracejo pelos social-democratas de Petersburgo) e alguns dos "jovens" (que mais tarde colaboraram activamente na Rabótchaia Mysl) manifestou-se logo uma divergência muito nítida, e estabeleceu-se uma ardente polémica. Os "jovens" defendiam os princípios essenciais desses estatutos, tais como tinham sido publicados. Os "velhos" diziam que não era isso o que se colocava em primeiro lugar; que era preciso, inicialmente, consolidar a "União de Luta" para dela fazer uma organização de revolucionários, à qual estariam subordinadas as diversas caixas operárias, os círculos de propaganda entre a juventude das escolas etc. Bem entendido, as duas partes estavam longe de ver nessa divergência o germe de um desacordo; ao contrário, consideravam-na isolada e acidental. Esse facto, porém, mostra que o nascimento e a difusão do "economismo" na Rússia não se fizeram igualmente sem luta contra os "velhos" social-democratas (o que os "economistas" de hoje frequentemente esquecem). E se essa luta não deixou, na maior parte dos casos, traços "documentais", é unicamente porque a composição dos círculos em actividade mudava com incrível rapidez, porque não se estabelecera qualquer tradição e porque, em consequência, as divergências de pontos de vista não foram registadas em qualquer documento.

O aparecimento da Rabótchaia Mysl trouxe o "economismo" para a luz do dia, porém tal não se deu imediatamente. É preciso ter, uma ideia concreta das condições de trabalho e da breve existência de numerosos círculos russos (ora, só quem passou por isso, pode ter ideia exacta das coisas), para compreender quanto teve de fortuito o sucesso ou o fracasso da nova tendência nas diferentes cidades, e a impossibilidade absoluta em que durante muito tempo se encontravam os partidários e os adversários dessa "nova" tendência, de determinar se era realmente uma tendência distinta ou simplesmente a expressão da falta de preparação de alguns. Assim, os primeiros números policopiados da Rabótchaia Mysl permaneceram completamente desconhecidos da imensa maioria dos social-democratas, e se agora temos a possibilidade de nos referir ao editorial do seu primeiro número, é unicamente porque tal editorial foi reproduzido no artigo de V.I. (Listok "Rabótnika", n.º 9-10, p. 47 e seg.), que evidentemente não deixou de louvar com empenho – com empenho inconsiderado – esse novo jornal tão nitidamente diferente dos jornais e projectos de jornais acima citados[5]. Ora, esse editorial exprime com tanto relevo todo o espírito da Rabótchaia Mysl e do "economismo" em geral, que vale a pena determo-nos aí.

Após ter indicado que o braço fardado de azul não deteria jamais o progresso do movimento operário, o editorial prossegue: "... O movimento operário deve a sua vitalidade ao facto de ser o próprio operário a encarregar-se da sua sorte, arrancando-a das mãos dos seus dirigentes." Esta tese fundamental é, em seguida, desenvolvida nos seus detalhes. Na realidade, os dirigentes (isto é, os social-democratas organizadores da "União de Luta") foram arrancados pela polícia, por assim dizer, das mãos dos operários[6], e querem fazer-nos acreditar que os operários conduziam a luta contra os dirigentes e se libertavam do seu jugo! Em lugar de estimular a marcha para a frente, de consolidar a organização revolucionária e de ampliar a actividade política, incitou-se o retrocesso em direcção à luta exclusivamente sindical. Proclamou-se que "a base económica do movimento está obscurecida pela tendência a jamais esquecer o ideal político", que o lema do movimento operário é "a luta pela situação económica" (!) ou, melhor ainda, "os operários pelos operários"; declarou-se que as caixas de greve "valem mais para o movimento do que uma centena de outras organizações" (que se compare esta afirmação, feita em Outubro de 1897, com a disputa dos "dezembristas" com os jovens, no inicio de 1897) etc. Frases como: é preciso colocar em primeiro plano, não a "nata" dos operários, mas o operário "médio", o operário das fileiras; ou como: "O político segue sempre docilmente o económico"[7] etc. etc., entraram na moda e exerceram influência sobre a massa dos jovens seduzidos pelo movimento e que, na maioria, não conheciam senão fragmentos do marxismo, tal como era exposto legalmente.

Isto constituiu o completo aniquilamento da consciência pela espontaneidade – pela espontaneidade dos "social-democratas" que repetiam as "ideias" do Senhor V.V., a espontaneidade dos operários seduzidos pelo argumento de que mesmo um aumento de um copeque por rublo valia mais que todo socialismo e toda política, de que deviam "lutar sabendo que o faziam não por remotas gerações futuras mas por eles próprios e pelos seus filhos" (editorial do n.º 1 da Rabótchaia Mysl). As frases desse género foram sempre a arma preferida dos burgueses do Ocidente que, odiando o socialismo, trabalhavam (como Hirsch, o "social-político" alemão) para transplantar para os seus países o sindicalismo inglês, e diziam aos operários que a luta exclusivamente sindical[8] é uma luta por eles próprios e pelos seus filhos, e não por remotas gerações futuras com vistas a um incerto socialismo futuro. E agora os "V.V. da social-democracia russa" põem-se a repetir essas frases burguesas. Aqui, é importante assinalar três pontos que nos serão de grande utilidade para a continuação da nossa análise sobre as divergências actuais.[9]

Em primeiro lugar, o aniquilamento da consciência pela espontaneidade, de que falamos, também se deu de maneira espontânea. Isto parece um jogo de palavras, mas infelizmente é uma verdade amarga. O que provocou esse aniquilamento não foi uma luta declarada entre duas concepções absolutamente opostas, nem a vitória de uma sobre a outra, mas o desaparecimento de um número cada vez maior de "velhos" revolucionários "colhidos" pela polícia, e a entrada em cena, cada vez mais frequente, dos "jovens" "V.V. da social-democracia russa". Quem quer que tenha, não direi participado do movimento russo contemporâneo, mas simplesmente respirado o seu ar, sabe perfeitamente que esta é precisamente a situação. E se, apesar disso, insistimos particularmente para que o leitor considere com cuidado esse facto conhecido de todos, se para maior evidência referimo-nos, de algum modo, aos dados sobre o Rabótcheie Dielo do primeiro período, e sobre a discussão entre "jovens" e "velhos" no início de 1897, é porque as pessoas que se gabam de "espírito democrático" especulam sobre a ignorância desse facto pelo grande público (ou entre os adolescentes). Mais adiante, ainda voltaremos a esse ponto.

Em segundo lugar, desde a primeira manifestação literária do "economismo" podemos observar um fenómeno eminentemente original e extremamente característico para a compreensão de todas as divergências entre social-democratas da actualidade: os partidários do "movimento puramente operário", os adeptos da ligação mais estreita e mais "orgânica" (expressão do Rab. Dielo) com a luta proletária, os adversários de todos os intelectuais não operários (ainda que fossem intelectuais socialistas) foram obrigados, para defender sua posição, a recorrer aos argumentos burgueses "exclusivamente sindicais". Isto nos mostra que, desde o princípio, a Rabótchaia Mysl começara – insistentemente – a realizar o programa do Credo. Isto mostra (o que não pode chegar a compreender o Rabótcheie Dielo), que qualquer culto da espontaneidade do movimento operário, qualquer diminuição do papel do "elemento consciente", do papel da social-democracia significa – quer se queira, quer não – um reforço da influência da ideologia burguesa entre os operários. Todos aqueles que falam de "sobrestimação da ideologia"[10], de exagero do papel do elemento consciente[11] etc., imaginam que o movimento puramente operário é, por si próprio, capaz de elaborar, e irá elaborar para si, uma ideologia independente, com a única condição de que os operários "arranquem sua sorte das mãos de seus dirigentes". Mas, isto constitui um erro profundo. Para completar o que dissemos acima, citaremos ainda as palavras profundamente justas e significativas de K. Kautsky, a propósito do projecto do novo programa do partido social-democrata austríaco[12].

"Muitos dos nossos críticos revisionistas atribuem a Marx a afirmação de que o desenvolvimento económico e a luta de classes não somente criam as condições da produção socialista, mas engendram directamente a consciência (o enigma é de K.K.) da sua necessidade. E eis que esses críticos objectam que a Inglaterra, país do mais avançado desenvolvimento capitalista, está mais alheia do que qualquer outro país a essa consciência. O projecto do programa leva a crer que a comissão que elaborou o programa austríaco partilha, também, desse ponto de vista dito marxista ortodoxo, que refuta o exemplo da Inglaterra. O projecto afirma: "Quanto mais o proletariado aumenta em consequência do desenvolvimento capitalista, mais é obrigado e tem a possibilidade de lutar contra o capitalismo. O proletariado adquire a "consciência" da possibilidade e da necessidade do socialismo. Por conseguinte, a consciência socialista constituirá o resultado necessário, directo da luta proletária de classe. Ora, isto é inteiramente falso. Como doutrina, o socialismo evidentemente tem as suas raízes nas relações económicas actuais, da mesma forma que a luta de classe do proletariado; do mesmo modo que esta última, resulta da luta contra a pobreza e a miséria das massas, provocadas pelo capitalismo. Mas o socialismo e a luta de classe surgem paralelamente e um não engendra o outro; surgem de premissas diferentes. A consciência socialista de hoje não pode surgir senão na base de um profundo conhecimento científico. De facto, a ciência económica contemporânea constitui tanto uma condição da produção socialista como, por exemplo, a técnica moderna, e, apesar de todo o seu desejo, o proletariado não pode criá-las; ambas surgem do processo social contemporâneo. Ora, o portador da ciência não é o proletariado, mas os intelectuais burgueses (o enigma é de KA.): foi do cérebro de certos indivíduos dessa categoria que nasceu o socialismo contemporâneo, e foram eles que o transmitiram aos proletários intelectualmente mais evoluídos, que o introduziram, em seguida, na luta de classe do proletariado onde as condições o permitiram. Assim, pois, a consciência socialista é um elemento importado de fora (von Aussenhineigetranes) da luta de classe do Proletariado, e não algo que surgiu espontaneamente (ur wüchsig). Também o antigo programa de Heinfeld dizia, muito justamente, que a tarefa da social-democracia é introduzir no proletariado (literalmente: preencher o proletariado com) a consciência da sua situação e a consciência da sua missão. Não seria necessário fazê-lo se essa consciência emanasse naturalmente da luta da classe. Ora, o novo projecto abandonou essa tese do antigo programa e juntou-se à tese acima citada. O que interrompeu completamente o curso do pensamento...

No momento, não seria possível falar de uma ideologia independente, elaborada pelas próprias massas operárias no curso de seu movimento[13], o problema coloca-se exclusivamente assim: ideologia burguesa ou ideologia socialista. Não há meio-termo (pois a humanidade não elaborou uma "terceira" ideologia; e, além disso, numa sociedade dilacerada pelos antagonismos de classe não seria possível existir uma ideologia à margem ou acima dessas classes). Por isso, qualquer diminuição da ideologia socialista, qualquer distanciamento dela implica o fortalecimento da ideologia burguesa. Fala-se de espontaneidade. Mas o desenvolvimento espontâneo do movimento operário resulta justamente na subordinação à ideologia burguesa, efectua-se justamente segundo o programa do "Credo", pois o movimento operário espontâneo é o sindicalismo, a Nur-Gewerkschafilerei: ora, o sindicalismo é justamente a escravidão ideológica dos operários pela burguesia. Por isso, nossa tarefa, a da social-democracia, é combater a espontaneidade, desviar o movimento operário dessa tendência espontânea que apresenta o sindicalismo, de se refugiar sob as asas da burguesia, e atraí-lo para a social-democracia revolucionária. Por conseguinte, a frase dos autores da carta "económica" do n.º 12 do Iskra, afirmando que todos os esforços dos mais inspirados ideólogos não poderão desviar o movimento operário do caminho determinado pela acção recíproca dos elementos materiais e do meio material, equivale exactamente a abandonar o socialismo, e se esses autores fossem capazes de meditar no que dizem, até às ultimas consequências, com lógica e destemor, como deve fazer quem se dedica ao campo da acção literária e social, não lhes restaria senão cruzar sobre o peito vazio os seus braços inúteis e... deixar o campo livre aos senhores Struve e Prokopovitch, que arrastam o movimento operário "no sentido do mínimo esforço", isto é, no sentido do sindicalismo burguês, ou aos senhores Zubatov, que o arrastam no sentido da "ideologia" clérigo-policial.

Recorde-se o caso da Alemanha. Qual foi o mérito histórico de Lassalle diante do movimento operário alemão? Foi ter desviado este movimento do caminho do sindicalismo progressista e do cooperativismo, para onde se dirigia espontaneamente (com a ajuda benévola dos Schulze-Delitzsch e consortes). Para realizar essa tarefa, foi preciso mais do que frases a respeito da subestimação do elemento espontâneo, sobre a táctica-processo, sobre a acção recíproca dos elementos e do meio etc. Para isso foi preciso uma luta encarniçada contra a espontaneidade, e só após essa luta de longos e longos anos é que se chegou, por exemplo, a fazer da população operária de Berlim o baluarte do partido progressista, uma das melhores cidadelas da social-democracia. E esta luta está ainda longe de terminar (como poderiam supor os estudiosos da história do movimento alemão através de Prokopovitch, e da filosofia desse movimento através de Struve). Ainda agora, a classe operária alemã está dividida, se assim se pode dizer, entre diversas ideologias: uma parte dos operários está agrupada nos sindicatos operários católicos e monarquistas; outra, nos sindicatos Hirsch-Duncker, fundados pelos admiradores burgueses do sindicalismo inglês; uma terceira, nos sindicatos social-democratas. Esta última parte é infinitamente mais numerosa que todas as outras, mas a ideologia social-democrática não pode obter, e não poderá conservar essa supremacia, senão através de uma luta incansável contra todas as outras ideologias.

Mas, por que – perguntará o leitor – o movimento espontâneo, que se dirige para o sentido do mínimo esforço, conduz exactamente à dominação pela ideologia burguesa? Pela simples razão de que, cronologicamente, a ideologia burguesa é muito mais antiga que a ideologia socialista, está completamente elaborada e possui meios de difusão infinitamente maiores[14]. Quanto mais jovem for o movimento socialista num país, mais energicamente terá que lutar contra todas as tentativas feitas para consolidar a ideologia não socialista; tanto mais resolutamente será preciso colocar os operários em guarda contra os maus conselheiros que gritam contra a "sobrestimação do elemento consciente" etc. Com o Rabótcheie Dielo, os autores da carta económica gritam em uníssono contra a intolerância própria da infância do movimento. A isto responderemos: de facto, o nosso movimento ainda está na sua infância, e para atingir a sua virilidade deve justamente imbuir-se de intolerância em relação àqueles que, através do culto da espontaneidade, retardam o seu desenvolvimento. Nada há de mais ridículo e de mais prejudicial para se colocar ao velho militante que, há muito, já passou por todas as fases decisivas da luta!

Em terceiro lugar, o primeiro número da Rabótchaia Mysl mostra-nos que a denominação de "economismo" (à qual, evidentemente, não temos intenção de renunciar, pois de qualquer modo este vocábulo já adquiriu direito de ser citado) não traduz com exactidão suficiente o fundo da nova tendência. A Rabótchaia Mysl não nega completamente a luta política: os estatutos da caixa que publica no seu primeiro número falam da luta contra o governo. A Rabótchaia Mysl considera somente que "o político segue sempre docilmente o económico". (E o Rabótcheie Dielo dá uma variação dessa tese, afirmando no seu programa que "na Rússia, mais que em qualquer outro país, a luta económica é inseparável da luta política"). Essas teses da Rabótchaia Mysl e do Rabótcheie Dielo são absolutamente falsas, se por política se entende a política social-democrata. Com muita frequência, a luta económica dos operários, como já vimos, está ligada, (não de forma indissolúvel, é verdade) à política burguesa, clerical, ou outra. As teses do Rabótcheie Dielo são justas, se por política se entende a política sindical, isto é, a aspiração geral dos operários a obter do Estado as medidas susceptíveis de remediar os males inerentes à sua situação, mas, que não suprimem tal situação, isto é, não suprimem a submissão do trabalho ao capital. Essa aspiração é, de facto, comum aos sindicalistas ingleses hostis ao socialismo, aos operários católicos e aos operários "de Zubatov", etc. Há política e política. Assim, pois, vemos que a Rabótchaia Mysl, mesmo no que concerne à luta política, mais do que repudiá-la, inclina-se diante da sua espontaneidade, da sua inconsciência. Reconhecendo inteiramente a luta política que surge espontaneamente do próprio movimento operário (ou, mais ainda: os anseios e reivindicações políticas dos operários) recusa-se por completo a elaborar ela própria uma política social-democrata específica, que responda às tarefas gerais do socialismo nas condições russas actuais. Mais adiante mostraremos que esta também é a falta cometida pelo Rabótcheie Dielo.

 

c) O grupo da Auto-libertação e o "Rabótcheie Dielo"

Se analisamos com tantos detalhes o editorial pouco conhecido e hoje quase esquecido do primeiro número da Rabótchaia Mysl é porque ele foi o primeiro a expressar de forma relevante a corrente geral, que mais tarde surgiria à luz do dia sob a forma de uma infinidade de riachos. V. I. tinha absoluta razão quando, louvando esse primeiro número e esse editorial da Rabótchaia Mysl, constatou "a (sua) veemência e o seu ardor" (Listok “Rabotnika” n.º 9-10, p. 49). Qualquer homem de convicções firmes, que acredita trazer algo de novo quando escreve com "ardor", coloca em relevo o seu ponto de vista. Somente aqueles habituados a permanecer sentados entre duas cadeiras carecem de "ardor"; somente estes, após terem elogiado, ontem, o ardor da Rabótchaia Mysl, são capazes, hoje, de censurar o "ardor polémico" dos seus adversários.

Sem nos determos no "suplemento especial da Rabótchaia Mysl (a seguir, teremos de nos referir, por diferentes motivos, a essa obra que expõe com a maior lógica as ideias dos "economistas"), limitamo-nos a assinalar sumariamente o "Apelo do Grupo da Auto-libertação dos Operários" (Março de 1899, reproduzido no Nakanune de Londres, n.º 7, Julho de 1899). Os autores deste apelo dizem, com toda a razão, que "a Rússia operária, que apenas começa a sacudir-se do seu torpor e a olhar à sua volta, apega-se instintivamente aos primeiros meios de luta que se lhe oferecem", mas daí tiram a mesma conclusão errónea que a Rabótchaia Mysl, esquecendo-se que o instintivo é exactamente o inconsciente (o espontâneo), em ajuda do qual devem correr os socialistas; que os "primeiros" meios de luta "que se lhe oferecem" serão sempre, na sociedade contemporânea, os meios sindicalistas de luta e a "primeira" ideologia, a ideologia burguesa (sindicalista). Esses autores não "negam" mais a política, dizem somente (somente!), de acordo com o Senhor V. V., que a política é uma superstrutura e que, por conseguinte, "a agitação política deve ser a superstrutura da agitação em favor da luta económica, que deve surgir no campo dessa luta e marchar atrás dela".

Quanto ao Rabótcheie Dielo, começou sua actividade directamente pela "defesa" dos "economistas". Após ter enunciado uma contra verdade manifesta declarando desde o seu primeiro número (n.º 1, p. 141-142) "ignorar a que jovens camaradas se referia Axelrod", que no seu conhecido folheto[15] fazia uma advertência aos "economistas", o Rabótcheie Dielo teve, no curso de sua polémica com Axelrod e Plekhanov a propósito dessa contraverdade, de reconhecer que "simulando não saber de quem se tratava, desejava defender todos os jovens social-democratas do estrangeiro contra essa acusação injusta" (a acusação de estreiteza de Axelrod aos "economistas"). Na realidade, esta acusação era perfeitamente justa, e o Rabótcheie Dielo sabia muito bem que ela visava, entre outros, V. I., membro da sua redacção. Notarei de passagem, a esse respeito, que na polémica em questão Axelrod tinha inteira razão, e o Rabótcheie Dielo estava completamente errado na interpretação do meu trabalho, "As Tarefas dos Social-Democratas Russos". Este trabalho foi escrito em 1897, ainda antes do aparecimento da Rabótchiai Mysl quando eu considerava, com toda a razão, que a tendência inicial da "União de Luta" de São Petersburgo, tal como a caracterizei acima, era a predominante. Efectivamente, esta tendência foi preponderante pelo menos até meados de 1898. Ademais, o Rabótcheie Dielo não fora inutilmente fundado para desmentir a existência e o perigo do "economismo", para se referir a um trabalho que expunha os pontos de vista que foram suplantados em São Petersburgo, em 1897-1898, pelos "economistas"?[16]

Mas, o Rabótcheie Dielo não apenas "defendia" os "economistas"; também incorria, ele próprio, constantemente nos seus principais erros. O que se encontrava na origem desse desvio, era a interpretação ambígua da seguinte tese do seu programa: "O fenómeno essencial da vida russa, designado principalmente para definir as tarefas (o escrito é nosso) e o carácter da actividade literária da "União", é, em nossa opinião, o movimento operário de massas (escrito pelo Rabótcheie Dielo), que surgiu esses últimos anos". Está fora de discussão, que o movimento de massas seja um fenómeno muito importante. Mas, a questão é saber como compreender a "definição das tarefas" para esse movimento de massas. Pode ser compreendida de duas maneiras: ou nos inclinamos diante da espontaneidade desse movimento, isto é, reconduzimos o papel da social-democracia ao de um simples criado do movimento operário como tal (assim o entendem o Rabótchaia Mysl o "Grupo da Auto-libertação" e os outros "economistas"); ou admitimos que o movimento de massas nos impõe novas tarefas teóricas, políticas e de organização, muito mais complexas do que aquelas com que podíamos contentar-nos antes do aparecimento do movimento de massas. O Rabótcheie Dielo sempre tendeu, e tende, precisamente para a primeira interpretação; jamais falou com precisão de novas tarefas, e sempre raciocinou como se esse "movimento de massas" nos eximisse da necessidade de conceber com nitidez e de realizar as tarefas que ele impõe. Será suficiente indicar que, o Rabótcheie Dielo julgou impossível atribuir como primeira tarefa do movimento operário de massas o derrube da autocracia, tarefa que rebaixou (em nome do movimento de massas) ao nível da luta pelas reivindicações políticas imediatas ("Resposta", p. 25).

Deixando de lado o artigo de B. Krítchévski, redactor-chefe do Rabótcheie Dielo – "A Luta Económica e Política no Movimento Russo" – aparecido no número 7, artigo onde se encontram os mesmos erros[17], passaremos directamente ao número 10 do Rabótcheie Dielo. É claro que não examinaremos uma a uma as objecções de B. Kritchévski e de Martynov contra a Zaria e o Iskra. O que nos interessa aqui, é unicamente a posição de princípio adoptada pelo Rabótcheie Dielo no seu número 10. Assim, não examinaremos o facto curioso, de o Rabótcheie Dielo ver uma "contradição fundamental" entre a tese seguinte:

"A social-democracia não une as mãos, não limita sua actividade a um plano preconcebido ou a um procedimento de luta política preestabelecido; admite todos os meios de luta, contanto que correspondam às forças disponíveis do Partido", etc. (Iskra n.º 1)

e esta tese:

 "...sem uma organização sólida, habilitada à luta política em todas as circunstâncias e em todos os períodos, não seria possível sequer falar desse plano de acção sistemática estabelecido à luz de princípios severos, e seguido sem fraquejamentos, o único a merecer o nome de táctica" (Iskra, n.º 4).

Confundir por princípio o reconhecimento de todos os meios, de todos os planos e procedimentos da luta, desde que sejam racionais, com a necessidade de se guiar num determinado momento político a partir de um plano rigorosamente aplicado, se se quer falar de táctica, equivaleria a confundir o reconhecimento pela medicina de todos os sistemas de tratamento, com a necessidade de se ter de seguir um determinado sistema no tratamento de uma dada doença. Mas, é o próprio Rabótcheie Dielo que sofre da doença que denominamos o culto do espontâneo, sem querer admitir qualquer "sistema de tratamento" dessa doença. Ademais, fez esta descoberta notável, que "a táctica-plano contradiz o espírito fundamental do marxismo" (n.º 10, p. 18); que a táctica é "o processo de crescimento das tarefas do partido, que crescem ao mesmo tempo que ele" (p. 11, grifado pelo Rabótcheie Dielo). Esta última frase tem todas as possibilidades de se tornar famosa, um monumento indestrutível da "tendência" do Rabótcheie Dielo. À pergunta: "para onde ir?" este órgão dirigente responde: o movimento é o processo de variação de distância entre o ponto de partida e o ponto seguinte do movimento. Esta reflexão de incomparável profundidade não é apenas curiosa (não valeria a pena nela nos determos), constitui, ainda, o programa de toda uma tendência, programa que R. M. (no "Suplemento especial à Rabótchaia Mysl") expressou nestes termos: a luta é desejável se for possível; e é possível aquela que se trava num dado momento. É exactamente esta a tendência do oportunismo ilimitado, que se adapta passivamente à espontaneidade.

"A táctica-plano contradiz o espírito fundamental do marxismo!" Mas, isto é caluniar o marxismo, é convertê-lo numa caricatura análoga àquela que nos opunham os populistas na sua guerra contra nós. É, precisamente, rebaixar a iniciativa e a energia dos militantes conscientes, enquanto o marxismo, ao contrário, estimula enormemente a energia do social-democrata, abrindo-lhe as maiores perspectivas, pondo (se assim podemos dizer) à sua disposição as forças prodigiosas de milhões e milhões de operários que se preparam espontaneamente para a luta! Toda a história da social-democracia internacional fervilha de planos formulados por este ou aquele chefe político, planos que atestam a clarividência de alguns e a exactidão dos seu pontos de vista políticos e de organização, ou que revelam a miopia e os erros políticos de outros. Quando a Alemanha conheceu uma das maiores reviravoltas de sua história – a formação do Império, a abertura do Reichstag, a concessão do sufrágio universal – Liebknecht tinha um plano da política e da acção social-democrata em geral, e Schweitzer tinha outro. Quando a lei da excepção se abateu sobre os socialistas alemães, Most e Hasselmann tinham um plano: o apelo puro e simples à violência e ao terror; Höchberg, Schramm e (em parte) Bernstein tinham outro: os social-democratas tendo sido vítimas, pela sua violência insensata e seu revolucionarismo, da lei que os atingia, deviam agora, através de um comportamento exemplar, obter perdão; enfim, existia um terceiro plano: o dos homens que prepararam e realizaram a publicação de um órgão ilegal. Retrospectivamente, recuando muitos anos, após terminada a luta pela escolha do caminho a seguir, e agora que a história se pronunciou definitivamente sobre o valor da direcção escolhida, é claro que não é difícil manifestar profundidade declarando, sentenciosamente, que as tarefas do Partido crescem ao mesmo tempo que ele. Mas, nas horas de confusão[18], quando os "críticos" e "economistas" russos rebaixam a social-democracia ao nível do sindicalismo, e os terroristas pregam com ardor a adopção de uma "táctica-plano", que apenas retoma os erros antigos – ater-se em semelhante momento a tais frases é passar a si próprio um "certificado de indigência". No momento em que inúmeros social-democratas russos carecem exactamente de iniciativa e energia, de "extensão da propaganda, da agitação e da organização política", de "planos" para pôr em execução, de forma mais ampla, o trabalho revolucionário, dizer que "a táctica-plano[19] contradiz o espírito fundamental do marxismo" não é apenas aviltar teoricamente o marxismo mas praticamente puxar o Partido para trás.

O social-democrata revolucionário, ensina-nos adiante o Rabótcheie Dielo, tem como tarefa unicamente acelerar, pelo seu trabalho consciente, o desenvolvimento objectivo, e não suprimi-lo ou substituí-lo por planos subjectivos. O Iskra, em teoria, conhece tudo isso. Mas a importância considerável que o marxismo atribui, com razão, ao trabalho revolucionário consciente, leva de facto o Iskra, em consequência de seu doutrinarismo em matéria de táctica, a subestimar o valor do elemento objectivo ou espontâneo do desenvolvimento" (p. 18).

Eis-nos, de novo, diante de uma confusão teórica extraordinária, digna dos senhores V. V. e consortes. Mas, perguntaremos ao nosso filósofo, em que pode consistir a "subestimação" do desenvolvimento objectivo para o autor de planos subjectivos? Evidentemente, em perder de vista o facto de que este desenvolvimento objectivo cria ou consolida, arruína ou enfraquece estas ou aquelas classes, categorias, grupos, essas ou aquelas nações, grupos de nações etc., determinando assim o aparecimento desse ou daquele agrupamento político internacional de forças, essa ou aquela posição dos partidos revolucionários etc. Mas, o erro desse autor será, então, de ter subestimado não o elemento espontâneo, mas, ao contrário, o elemento consciente, pois a ele terá faltado a "consciência" para uma justa compreensão do desenvolvimento objectivo. É por isso que somente o facto de se falar "da apreciação da importância relativa" (grifado pelo Rabótcheie Dielo) assinala uma ausência completa de "consciência". Se certos "elementos espontâneos do desenvolvimento" são acessíveis em geral à consciência humana, a apreciação errónea desses elementos equivalerá a uma "subestimação do elemento consciente". E se são inacessíveis à consciência, não os conhecemos, e não podemos falar deles. Que deseja, pois, B Kritchévski? Se considera errados os "planos subjectivos" do Iskra (e de facto os declara errados), deveria mostrar, precisamente, quais os factos objectivos que não são levados em conta por esses planos, e acusar o "Iskra" de falta de consciência, de "subestimação do elemento consciente", para utilizar sua linguagem. Mas, se descontente com os planos subjectivos, não tem outros argumentos senão os da "subestimação do elemento espontâneo" (!!), somente poderá provar através disso que: 1.º) teoricamente, compreende o marxismo à maneira dos Karéiev e dos Mikhailóvski, suficientemente escarnecidos por Beltov; 2.º) praticamente, está inteiramente satisfeito com os "elementos espontâneos do desenvolvimento", que arrastaram os nossos marxistas legais ao bernsteinismo e os nossos social-democratas ao "economismo", e que está "muito indignado" contra os que decidiram desviar, a qualquer custo, a social-democracia russa dos caminhos do desenvolvimento "espontâneo".

A seguir, aparecem coisas verdadeiramente divertidas. "Do mesmo modo que os homens, apesar de todo o progresso das ciências naturais, continuarão a multiplicar-se através de procedimentos ancestrais, do mesmo modo que o nascimento de uma nova ordem social, apesar de todo o progresso das ciências sociais e do aumento do número de combatentes, será sempre e sobretudo o resultado de explosões espontâneas. Da mesma forma que a sabedoria ancestral diz: a quem faltará inteligência para ter filhos? – também a sabedoria dos "socialistas modernos" (à maneira de NarcisseTuporilov) diz: para participar do nascimento espontâneo de uma nova ordem social, não faltará inteligência a ninguém. Também pensamos assim. Para participar dessa maneira, basta se laisser aller pelo "economismo", quando reina o "economismo", pelo terrorismo, quando surge o terrorismo. Assim, o Rabótcheie Dielo, na última primavera, quando era tão importante pôr-se em guarda contra o entusiasmo pelo terror, encontrou-se perplexo, diante de uma questão "nova" para ele. E agora, seis meses mais tarde, quando a questão deixou de ter tão palpitante actualidade, apresenta-nos ao mesmo tempo esta declaração: "pensamos que a tarefa da social-democracia não pode, nem deve opor-se à ascensão de tendências terroristas" (Rabótcheie Dielo, n.º 10, p. 23), bem como à resolução do congresso: "O congresso reconhece como inoportuno o terror ofensivo sistemático" (Dois Congressos, p. 18). Que clareza e coerência admiráveis! Não nos opomos, mas declaramos inoportuno, e declaramos isso de forma que a "resolução" não inclua o terror não sistemático e defensivo. Concordamos que tal resolução não oferece qualquer perigo, e que constitui garantia contra qualquer erro, como o de falar sem nada dizer! Para quem redigiu tal resolução, não é preciso senão uma coisa: saber segurar-se à cauda do movimento. Quando o Iskra zombou do Rabótcheie Dielo, que declarou que a questão do terror era uma questão nova, o Rabótcheie Dielo acusou severamente o Iskra "de ter a pretensão verdadeiramente incrível de impor à organização do Partido a solução de problemas tácticos, apresentada há mais de quinze anos por um grupo de escritores emigrados" (p. 24). De facto, que atitude pretensiosa e que exagero do elemento consciente: resolver teoricamente e de antemão as questões, a fim de convencer em seguida a organização, o partido e as massas de que essa solução é bem fundamentada![20] Outra coisa é simplesmente repetir coisas já ditas, e sem nada "impor" a ninguém, e obedecer a qualquer "virada" tanto para o "economismo" como para o terrorismo. O Rabótcheie Dielo chega a sintetizar esse grande preceito da sabedoria humana e acusa o Iskra e a Zaria "de opor ao movimento o seu programa, como um espírito pairando acima do caos informe" (p. 29). Mas, qual é o papel da social-democracia, senão o de ser o "espírito" que não somente paira acima do movimento espontâneo, mas, eleva este ao nível de "seu programa"? Não é, portanto, o papel de se arrastar na cauda do movimento; coisa inútil, no melhor dos casos, e, no pior, extremamente prejudicial para o movimento. O Rabótcheie Dielo não se limita a seguir essa "táctica-processo"; eleva-a mesmo em princípio, de forma que a sua tendência deveria ser qualificada não de oportunismo, mas, antes, de caudismo (da palavra cauda). É forçoso reconhecer que aqueles que estão firmemente decididos a sempre marchar na cauda do movimento, também estão, absolutamente e para sempre, contra o defeito de "subestimar o elemento espontâneo do desenvolvimento".

***

Constatamos, assim, que o erro fundamental da "nova tendência" da social-de-mocracia russa é inclinar-se diante da espontaneidade; é não compreender que a espontaneidade das massas exige de nós, social-democratas, uma consciência elevada. Quanto maior for o impulso espontâneo das massas, mais amplo será o movimento, e de forma ainda mais rápida se afirmará a necessidade de uma consciência elevada no trabalho teórico, político e de organização da social-democracia.

O impulso espontâneo das massas na Rússia foi (e continua a ser) tão rápido que a juventude social-democrata encontrou-se pouco preparada para realizar essas imensas tarefas. A falta de preparação é a nossa desgraça comum, a infelicidade de todos os social-democratas russos. O impulso das massas não cessou de crescer e de se estender de forma ininterruptamente contínua; e longe de se interromper nos locais onde foi iniciado, estendeu-se a novas localidades, a novas camadas da população (o movimento operário provocou um redobramento da efervescência entre a juventude das escolas, dos intelectuais em geral, e mesmo entre os camponeses). Os revolucionários atrasaram-se quanto à progressão do movimento, e nas suas "teorias" e actividade, não souberam criar uma organização que funcionasse constante e continuamente, capaz de dirigir todo o movimento.

No primeiro capítulo, constatámos que o Rabótcheie Dielo rebaixa as nossas tarefas teóricas e repete "espontaneamente" o grito em moda: "liberdade de crítica"; mas aqueles que o repetem não tiveram "consciência" suficiente para compreender a oposição diametral existente entre as posições dos "críticos" – oportunistas – e os revolucionários na Alemanha e na Rússia.

Nos capítulos seguintes, veremos como esse culto da espontaneidade se manifestou no domínio das tarefas políticas e no trabalho de organização da social-democracia.

 

 

[1] Rabótcheie Dielo, N.º 10, Setembro de 1901, pp. 17-18. – Lenine

[2] O sindicalismo não exclui de forma absoluta toda a "política", como por vezes se pensa. Os sindicatos sempre conduziram certo tipo de propaganda e certas lutas políticas (porém, não social-democratas). No capítulo seguinte, exporemos a diferença entre a política sindical e a política social-democrata.

[3] A. Vaneiev morreu em 1899, na Sibéria Oriental, de tuberculose contraída durante a prisão preventiva. Por isso, julgamos possível publicar as informações no texto: respondemos pela sua autenticidade, pois provêm de pessoas que conheceram pessoal e intimamente A. Vaneiev.

[4] "Criticando a actividade dos sociais-democratas dos últimos anos de século XIX, o Iskra não leva em conta a ausência, à época, de condições para um trabalho diferente da luta em favor de pequenas reivindicações." Assim falam os "economistas" na sua Carta aos Órgãos Social-Demo-cratas Russos (Iskra, n.º 12). Os factos citados no texto provam que essa afirmação sobre a "ausência de condições" é diametralmente oposta à verdade. Não apenas por volta de 1900, mas também em 1895, todas as condições estavam reunidas para permitir outro trabalho além da luta por pequenas reivindicações, salvo a preparação suficiente dos dirigentes. E eis que em vez de reconhecer abertamente esta falta de preparação entre nós, ideólogos e dirigentes, os "economistas" querem transferir toda a culpa, quanto à "ausência de condições", para a influência do meio material que determinaria um caminho, do qual nenhum ideólogo conseguiria desviar o movimento. O que é isto senão submissão servil a espontaneidade, senão admiração dos "ideólogos" pelos seus próprios defeitos? – Lenine

[5] Diga-se de passagem, que este elogio à Rabótchaia Mysl em Novembro de 1898, quando o economismo, sobretudo no estrangeiro, se tinha definido completamente, partia do próprio V. I., que pouco depois se tornou um dos redactores do Rabótcheie Dielo. E o Rabótcheie Dielo ainda negava, como continua a fazer, a existência de duas tendências na social-democracia russa! – Lenine

[6] O seguinte facto característico mostra a exactidão dessa comparação. Quando, após a prisão dos "dezembristas", se espalhou entre os operários da estrada de Schlüsselburg a notícia de que a sua descoberta e prisão foram facilitadas por um agente provocador, N. Mikhailov (um dentista), ligado a um grupo estreitamente vinculados aos "dezembristas", os operários indignados decidiram matá-lo. – Lenine

[7] Extraído do mesmo editorial do primeiro número da Rabótchaia Mysl. É por aqui que se pode julgar da preparação teórica dos "V. V. da social-democracia russa", que reproduziam esta grosseira vulgarização do "materialismo económico", enquanto os marxistas faziam guerra, nas suas publicações, ao verdadeiro V. V., desde há muito apelidado de "artesão da reacção", por compreender da mesma maneira as relações entre a política e a economia! – Lenine

[8] Os alemães possuem até uma palavra especial, Nur-Gewerkschaftler, para designar os partidários da luta "exclusivamente sindical".

[9] Sublinho “actuais” para os fariseus que encolhem os ombros e dizem: agora é fácil denegrir a Rabótchaia Mysl, mas não é isso história antiga? Mutato nomine de te fabula narratur, responderemos a esses fariseus modernos, cujo servilismo absoluto às ideias da Rabótchaia Mysl será demonstrado mais adiante. – Lenine

[10] Carta dos "economistas" no n.º 12 do Iskra. – Lenine

[11] Rabótcheie Dielo, n.º 10. – Lenine

[12] Neue Zeit, 1901-1902, XX, 1, n.º 3, p. 79. O projecto da comissão a que se refere Kautsky foi adoptado (no final do ano passado) pelo Congresso de Viena sob forma um pouco alterada. – Lenine

[13] Naturalmente, isto não significa que os operários não participem dessa elaboração. Mas não participam como operários, participam como teóricos do socialismo, como os Proudhon e os Weitling; noutras palavras, não participam senão na medida em que conseguem adquirir os conhecimentos mais ou menos perfeitos da sua época, e os fazem progredir. E para que os operários o consigam com maior frequência, é preciso o maior esforço para elevar o nível da consciência dos operários em geral; é preciso que estes não se limitem ao quadro artificialmente restrito da "literatura para operários", mas que saibam assimilar cada vez melhor a literatura geral. Seria mesmo mais exacto dizer, em lugar de "se limitem", “não sejam limitados”, porque os próprios operários lêem e desejariam ler tudo o que se escreve para os intelectuais: somente alguns (maus) intelectuais pensam que é suficiente falar "aos operários" da vida na fábrica e repisar aquilo que eles já sabem há muito tempo. – Lenine

[14] Diz-se frequentemente: a classe operária gravita espontaneamente em direcção ao socialismo. Isto é perfeitamente verdadeiro no sentido de que a teoria socialista determina as causas dos males da classe operária mais profunda e exactamente que as outras, e por isso os operários a assimilam com muita facilidade, desde que esta teoria não capitule, ela própria, diante da espontaneidade, desde que submeta essa espontaneidade. Isto está, em geral, subentendido, mas é precisamente isto que o Rabótcheie Dielo esquece ou deturpa. A classe operária gravita espontaneamente em direcção ao socialismo; mas a ideologia burguesa mais difundida (e constantemente ressuscitada sob as mais variadas formas) é, porém, aquela que em maior grau se impõe espontaneamente à classe operária. – Lenine

[15] As Tarefas Atuais e a Táctica dos Sociais-Democratas Russos, Genebra, 1898. Duas cartas à Rabótchaia MysI, escritas em 1897. – Lenine

[16] Em defesa da sua primeira contraverdade ("ignoramos a que jovens camaradas se referia P. Axelrod"), o Rabótcheie Dielo acrescentou uma segunda, quando escreveu na sua Resposta: "desde que a crítica das Tarefas foi feita, surgiram tendências, ou afirmaram-se tendências de forma mais ou menos nítida entre certos sociais-democratas russos, em direcção ao exclusivismo económico, que significam um passo atrás em relação ao estado de nosso movimento, tal como foi representado nas Tarefas" (p. 9). Isto é dito na Resposta, publicada em 1900. Ora, o primeiro número do Rabótcheie Dielo (com a crítica) apareceu em Abril de 1899. Mas, não foi em 1899 que o "economismo" apareceu realmente? Não, em 1899 fez-se ouvir pela primeira vez, o protesto dos sociais-democratas russos contra o "economismo" (protesto contra o Credo). Quanto ao "economismo", nasceu em 1897, como o sabe perfeitamente o Rabótcheie Dielo, pois, desde Novembro de 1898, (List. "Rabót.", n.º. 9-10), V. I. fazia elogios à Rabótchaia Mysl. – Lenine

[17] Veja-se, por exemplo, como se encontra enunciada nesse artigo a "teoria dos estádios", ou a teoria do "ziguezague tacteante" na luta política: "As reivindicações políticas, comuns pelo seu carácter a toda a Rússia, devem, todavia, nos primeiros tempos (isto foi escrito em Agosto de 1900) corresponder à experiência extraída da luta económica por cada categoria (sic!) de operários. É somente (!) a partir dessa experiência que se pode e deve empreender a agitação política" etc. (p. 11). Na página 4, o autor, erguendo-se contra as acusações de heresia economista, segundo ele absolutamente injustificadas, exclama pateticamente: “Qual é o social-democrata que ignora que, de acordo com a doutrina de Marx e Engels, os interesses económicos das diferentes classes desempenham um papel decisivo na história e que, consequentemente, a luta do proletariado pelos seus interesses económicos deve, em particular, ter importância primordial no seu desenvolvimento de classe e luta pela emancipação?" (O ênfase é nosso.) Este “consequentemente” é completamente irrelevante. O facto dos interesses económicos desempenharem um papel decisivo, não implica, de modo nenhum, que a luta económica (= sindical) seja de primordial importância para o mais essencial: os interesses "decisivos" das classes podem ser satisfeitos por transformações gerais políticas radicais; em particular, o interesse económico fundamental do proletariado só pode ser satisfeito por uma revolução política, que substituirá a ditadura da burguesia pela ditadura do proletariado. B Kritchévski repete o raciocínio dos "V. V. da social-democracia russa" (a política vem depois da economia, etc.), e dos bernsteinianos da social-democracia alemã (era justamente através de raciocínio análogo que Woltmann, por exemplo, procurou demonstrar que os operários devem começar por adquirir a "força económica" antes de pensar na revolução política). – Lenine

[18] Ein Jahr der Verwirrung (Um Ano de Confusão), é o título que Mehring deu ao capítulo da sua História da Social-Democracia Alemã, onde descreve as hesitações e a indecisão manifestadas inicialmente pelos socialistas na escolha de uma "táctica-plano" correspondente às novas condições. – Lenine

[19] Editorial do Iskra n.º 1. – Lenine

[20] Também não se deve esquecer que, resolvendo "teoricamente" a questão do terror, o grupo "Auto-libertação do Trabalho" sintetizou a experiência do movimento revolucionário anterior. – Lenine

 


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