de Marx, Engels, Lenine, Estaline, Mao Tsé-tung e outros autores
Quinta-feira, 1 de Novembro de 2007
Que fazer? IV-3- Os métodos artesanais dos economistas e a organização dos revolucionários

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IV Parte - 2

 

e) A organização "conspirativa” e o "democratismo"

No entanto, há muitas pessoas entre nós que são tão sensíveis à "voz da vida", a qual temem mais do que qualquer coisa no mundo, que acusam os adeptos das opiniões aqui expostas de seguir a linha do Narodnaia Volia [A Vontade do Povo], de não compreender o "democratismo ", etc É necessário determo-nos nestas acusações, que, é claro, foram também repetidas pelo Rabótcheie Dielo.

O autor destas linhas sabe muito bem que os "economistas" de S. Peters­burgo já acusavam a Rabótchaia Gazeta de seguir o Narodnaia Volia (o que é compreensível, se comparada à Rabótchaia Mysl). Por isso não nos surpreende­mos ao saber, através de um camarada pouco depois do nascimento do Iskra, que os social-democratas da cidade X consideravam o Iskra um órgão “narodo­vol’chista”. Este epíteto era para nós um elogio porque: qual foi o social-demo­crata, digno desse nome, a quem os "economistas" não acusaram de tal?

Estas acusações provêm de uma dupla confusão. Primeiramente, a história do movimento revolucionário é tão mal conhecida entre nós, que toda a teoria preconizando uma organização de combate centralizada e que declare resoluta­mente a guerra ao czarismo é etiquetada de afecta ao Narodnaia Volia. Mas a excelente organização que possuíam os revolucionários dos anos 70, e que devia servir de exemplo a todos nós, não foi criada pelos partidários do "Narodnaia Volia", mas pelos adeptos do "Zemlia i Volia" [Terra e Liberdade], nos quais houve uma cisão que deu origem aos tchernoperedieltsi e aos narodnoltsi. Sendo assim, ver numa organização revolucionária de combate uma herança directa do Narodnaia Volia é um absurdo histórica e logicamente, porque qualquer tendência re­volucionária, se pensa seriamente na luta, não pode passar sem uma tal organização. Não foi um erro mas, pelo contrário, um grande mérito dos narodnoltsi terem-se esforçado por atrair todos os descontentes à sua organização e orientar esta última para luta efectiva contra a autocracia. O seu erro foi o de se apoiarem numa teoria que, no fundo, não era de modo algum revolucionária, e de não terem sabido ou podido ligar indissoluvelmente o seu movimento à luta de classes no seio da soci­edade capitalista em desenvolvimento. E só a mais grosseira incom­preensão do marxismo (ou uma "interpretação" “struvista”) podia conduzir à crença de que o nascimento de um movimento operário de massas espontâneo nos libertará da obrigação de constituir uma organização revolucionária tão boa ou mesmo melhor do que a existia entre os zemlevoltsi. Pelo contrário, é esse movimento que nos impõe essa obrigação, pois a luta espon­tânea do proletari­ado não se transformará numa “verdadeira luta de classe” senão quando for dirigida por uma forte organização de revolucioná­rios.

Em segundo lugar, muitos militantes — e ao que parece também B. Kritchévski (Rab. Dielo, n.º 10, p. 18) — interpretam de maneira errónea a nossa polémica contra a tendência que consiste em reduzir a luta política dos social-democratas a uma "conspiração"[1]. Combatemos e combateremos as tentativas de restringir a nossa luta política às dimensões de complô, mas isso não significa que neguemos a necessidade de uma forte organização revolucionária. Pelo contrário, na brochura mencionada na nota, encontra-se além de uma polémica contra os que queriam reduzir a luta política a uma conspiração, a descrição de uma organização (social-democrata ideal) suficientemente forte para poder recorrer à “insurreição" e a todos os "outros meios de ataque", "a fim de dar um golpe definitivo no absolutismo"[2]. Pela sua forma, uma tal organização revolucionária num país autocrático pode ser qualificada de "conspirativa", porque o segredo é-lhe muito necessário, tão indispensável que predomina sobre todas as outras qualidades (número de membros, escolha dos membros, funções, etc.). É por isso que seríamos muito ingénuos se nós, social-democratas, receássemos a acusação de criar uma organização conspirativa. Tal acusação é uma lisonja para todo o inimigo do "economismo", como o é a acusação de "narodnolismo".

Ouviremos, porém, a objecção de que uma organização tão poderosa e tão estritamente secreta, concentrando nas suas mãos todos os fios da acção clandestina, organização necessariamente centralizada, pode facilmente lançar-se num ataque prematuro e forçar irreflectidamente o movimento, antes que este se torne possível e necessário pelos progressos do descontentamento político, pela força da efervescência e da exasperação da classe operária, etc.. A isso responderemos: falando em termos abstractos, não se pode negar que uma organização de combate possa iniciar de ânimo leve uma batalha que pode terminar em derrota o que, noutras condições, não aconteceria. Mas, no caso, é impossível limitarmo-nos a considerações abstractas, porque todo o combate implica possibilidades abstractas de derrota, e não há outro meio de as diminuir senão preparando-se sistematicamente para o combate. Mas se a questão se coloca no campo concreto da situação russa de hoje, chega-se à conclusão de que uma organização revolucionária forte é absolutamente necessária justamente para consolidar o movimento, e preservá-lo de ataques irreflectidos. Agora que esta organização nos falta e que o movimento revolucionário espontâneo se desenvolve rapidamente, observam-se já dois extremos opostos (que, como é lógico, "se tocam"): um "economismo" inconsistente pregando a moderação, ou então um "terrorismo excitativo" não menos inconsistente, procurando "artificialmente suscitar sintomas do fim do movimento, quando este ainda se está a desenvolver e a fortalecer, quando ainda está mais próximo do início que do fim ". (V. Zassoulitch, Zaria n.º 2-3, p. 353). O exemplo do Rabótcheie Dielo mostra que existem social-democratas que cedem diante destes dois extremos. Isto não é nada de espantar, porque, abstraindo as outras razões, é evidente que "a luta económica contra os patrões e o governo" nunca satisfará um revolucionário, e extremos opostos sempre surgirão aqui ou ali. Só uma organização de combate centralizada conduzindo firmemente a política social-democrata e dando satisfação a todos os instintos e aspirações revolucionários, está em condições de precaver o movimento contra um ataque irreflectido e preparar o ataque que prometa o êxito.

Em seguida, objectar-nos-ão que o nosso ponto de vista sobre a organização está em contradição com o "princípio democrático". Se a acusação precedente era de origem especificamente russa, esta tem nitidamente um carácter estrangeiro. Só uma organização sediada no estrangeiro (a "União dos Social-Democratas Russos") podia dar à luz, entre outras, a seguinte instrução:

"Princípio de organização. No interesse do bom desenvolvimento e união da social-democracia, convém sublinhar e lutar pelo princípio da ampla democracia na organização do partido, o que se tornou particularmente necessário pelas tendências antidemocráticas que se revelaram nas fileiras do nosso partido" (Dois Congressos. p. 18).

Veremos no capítulo seguinte como o Rabótcheie Dielo luta contra as "tendências antidemocráticas" do Iskra. Por agora, examinemos de mais perto esse "princípio" colocado pelos "economistas". Todos provavelmente concordarão que o "princípio da ampla democracia" implica duas condições necessárias: primeiro, a total transparência e, depois, a electividade de todas as funções. Seria ridículo falar de democracia sem uma publicidade completa não limitada aos membros da organização. Chamaremos ao partido socialista alemão uma organização democrática, porque nele tudo se faz abertamente, até as sessões do congresso; mas ninguém qualificará de democrática uma organização encoberta pelo véu do segredo para todos aqueles que não são seus membros. Porque colocar então o "princípio da ampla democracia", quando a condição essencial desse princípio, é impraticável numa organização clandestina? Este "princípio", neste caso, não é mais do que uma frase sonora, mas vazia, que atesta uma incompreensão completa das nossas tarefas imediatas em matéria de organização. Toda a gente sabe que, entre nós, a "larga" massa dos revolucionários não guarda devidamente o segredo. Vimos amargura com que B-v se queixa, reclamando com justa razão uma "selecção rigorosa dos membros" (Rab. Dielo, nº6, p.42). E eis que pessoas, que se ufanam do seu “sentido das realidades”, surgem para nos pregarem não a necessidade de um segredo rigoroso e de uma selecção severa (portanto, mais restrita) dos membros, mas o "princípio da ampla democracia"! Isto é o que se chama ser “troca-tintas”.

Quanto à electividade, o segundo postulado da democracia, as coisas não vão melhor. Nos países onde reina a liberdade política, esse factor existe natural­mente. "São considerados membros do partido, todos aqueles que reconheçam os princípios do seu programa e o apoiam na medida das suas forças", diz o primeiro artigo dos estatutos do partido social-democrata alemão. Como a arena política é visível a todos, assim como a cena de um teatro o é para os espectadores, cada um sabe pelos jornais ou pelas assembleias públicas se determinada pessoa reco­nhece ou não esses princípios, ou a eles se opõe. Sabe-se que tal militante político teve este ou aquele início, que evoluiu desta ou daquela maneira, que num ou noutro momento difícil da sua vida se comportou de determinada maneira, que possui estas ou aquelas qualidades; consequentemente todos os membros do partido podem, com conhecimento de causa, eleger ou não dado militante para dado posto do partido. O controlo geral (no sentido literal da palavra) de cada passo dado por um membro do partido na sua carreira política cria um mecanismo que funciona automaticamente, e que assegura o que em biologia se chama de "sobrevivência do mais apto". Graças a essa "selecção natural", resultado de uma publicidade completa, da electividade e do controlo geral, cada militante está " no seu lugar", desempenhando as tarefas mais apropriada às suas forças e às suas capacida­des, suporta as consequências dos seus erros, e demonstra perante todos a sua capacidade para reconhecer os seus erros e evitá-los.

Basta tentar encaixar este quadro na moldura de nossa autocracia! Será possível entre nós, que “todos aqueles que reconheçam os princípios do programa do partido e o apoiam na medida das suas forças" controlem cada passo dado pelos revolucionários-conspiradores? Será possível uma escolha entre estes últimos, quando o revolucionário é obrigado, no interesse do seu trabalho a esconder aquilo que é de nove décimos dos “todos”? Reflecti um pouco no verdadeiro sentido das frases sonoras do Rab. Dielo, e compreendereis que a "ampla democracia" na organização do partido, nas trevas da autocracia e sob um regime de selecção policial, não passa de um jogo inútil e prejudicial. É um jogo inútil porque nunca nenhuma organização revolucionária aplicou nem, mesmo querendo-o, pode aplicar a ampla democracia. É um jogo prejudicial, porque as tentativas para aplicar realmente o "princípio da democracia" apenas facilitam à polícia a realização de ataques de grande envergadura, perpetuam o amadorismo predominante, distraem os militantes da séria e imperiosa tarefa de proceder à educação de revolucionários profissionais, desperdiçando as forças a redigir “papéis" detalhados para os estatutos sobre o sistema de eleições. Só no estrangeiro, onde não raramente as pessoas, que não conseguem encontrar um trabalho verdadeiro e real, se reúnem, poderia haver sítio para se desenvolver, especialmente em grupos muito pequenos, este  brincar à  “democracia”.

Para mostrar ao leitor como é indigna a maneira de proceder do Rabótcheie Dielo, que prega o "princípio" aparentemente verdadeiro da "democracia" no trabalho revolucionário, mais uma vez recorreremos a uma testemunha. Essa testemunha – E. Serbriakov, editor da revista londrina Nakanunie – mostra um grande fraco pelo Rabótcheie Dielo e um grande ódio por Plekhanov e seus "plekhanovitas”; em artigos sobre a cisão da "União dos Sociais-Democratas Russos", no Nakanunie, tomou resolutamente o partido do Rabótcheie Dielo e derramou uma onda de palavras desprezíveis contra Plekhanov. É por isso que, para nós, o seu ponto de vista sobre esta questão é tão precioso. No artigo intitulado "A Propósito do Apelo do Grupo de Auto-libertação dos Operários" (Nakanunie, n.º 7 Julho de 1899), E. Serebriakov, observando a "inconveniência” que há em levantar as questões “de prestígio e de primazia no areópago  de um movimento revolucionário sério", escrevia, entre outras coisas:

"Mychkine, Rogatchev, Jehabov, Míkhailov, Perovskaía, Figner e outros nunca se consideraram como chefes. Todavia, embora ninguém os tenha nomeado ou eleito, eram na realidade chefes, pois, tanto em período de propaganda como em período de luta contra o governo, encarregavam-se do trabalho mais difícil, iam aos lugares mais perigosos, e a sua actividade foi a mais proveitosa. E essa primazia não era o resultado dos seus desejos, mas da confiança dos camaradas que os rodeavam na sua inteligência, na sua energia e na sua dedicação. Temer um areópago omnipotente (e se não for temido, porquê falar dele) que dirigiria autoritariamente todo o movimento seria demasiada candura. Quem lhe obedeceria?"

Perguntamos ao leitor: qual é a diferença entre um "areópago" e as "tendên­cias antidemocráticas"? Não é óbvio que o princípio de organização “aparente­mente verdadeiro” do R. Dielo é tão ingénuo quanto inconveniente? Ingénuo, porque o "areópago" ou as pessoas com "tendências antidemocráticas" nunca serão obedecidas por ninguém, se não tiverem a "confiança, dos camaradas que os rodearem, na sua inteligência, na sua energia e na sua dedicação". Inconveni­ente, porque não é senão um procedimento demagógico que se aproveita da vaidade de uns e da ignorância de outros, com o verdadeiro estado do movimento, com a impreparação novatos e a sua ignorância da história do movimento revolu­cionário. O único princípio sério em matéria de organização para os militantes do nosso movimento deve ser: segredo rigoroso, selecção rigorosa dos seus membros, preparação de revolucionários profissionais. Com estas qualidades, teremos algo mais do que "democracia": uma inteira confiança fraterna entre re­volucionários. Ora, isto é-nos absolutamente necessário, porque entre nós, na Rússia, não se pode pensar substituí-lo pelo controlo democrático geral. E seria um erro considerável crer que a impossibilidade de um controlo verdadeiramente "democrático" torna os membros da organização revolucionária incontroláveis: estes últimos, com efeito, não têm tempo para pensar nas formas de brincar à democracia (democracia num grupo compacto de camaradas tendo uns nos outros uma confiança completa), mas eles sentem muita vivamente a sua responsabili­dade, sabendo por experiência própria que, para se desembaraçar de um membro indigno, uma organização de verdadeiros revolucionários não recuará frente a nenhum meio. Por outro lado, existe entre nós, no próprio seio do meio revolucio­nário russo (e internacional), uma opinião pública bastante desenvolvida, com uma longa história e que castiga com rigor implacável qualquer desvio aos princípios da camaradagem (ora, a verdadeira democracia, e não uma sua brincadeira, é um elemento constitutivo da camaradagem assim compreendida!). Tenha-se tudo isto em conta e compreender-se-á que estes discursos e estas resoluções sobre as "tendências antidemocráticas" só podem exalar o cheiro a porão característico da emigração, com as suas pretensões ao generalato!

Há que observar, além disso, que uma outra fonte desses discursos é a inge­nuidade e a ideia confusa que faz da democracia. A obra do casal Webb sobre as trade-unions inglesas contém um capítulo curioso sobre a "democracia primitiva". Nele os autores contam que os operários ingleses consideravam ao princípio, como condição necessária da democracia, a participação de todos os membros em todos os detalhes da administração dessas uniões, não só todas as questões eram resolvidas pelo voto de todos os membros, mas também as próprias funções eram exercidas por todos os membros, sucessivamente. Foi preciso uma longa experiência histórica para que os operários compreendessem o absurdo de tal ideia de democracia e a necessidade de instituições representativas, por um lado, e de funcionários, por outro. Foram precisas inúmeras falências de caixas sindicais para fazer com que os operários compreendessem que a questão da relação entre as quotizações e os subsídios recebidos não podia ser decidida unicamente pelo voto democrático, e que exigia o parecer de um perito em matéria de seguros. Lede o livro de Kautsky sobre o parlamentarismo e a legislação popular, e vereis que as conclusões deste teórico marxista concordam com os ensinamentos da longa prática da união "espontânea” dos operários. Kautsky ergue-se resolutamen­te contra a concepção primitiva da democracia de Rittinghausen, ridiculariza as pessoas prontas a reclamar, em nome dessa democracia, que "os jornais popula­res sejam redigidos directamente pelo povo", demonstra a necessidade de profis­sionais jornalistas, parlamentares etc., para a direcção social-democrata da luta de classe do proletariado, ataca o “socialismo dos anarquistas e dos literatos" que, "procurando o efeito", preconizam a legislação popular directa e não compreendem até que ponto isso é inaplicável na sociedade actual.

Os que trabalharam no nosso movimento sabem como a concepção "primitiva" da democracia está espalhada entre a juventude estudantil e a massa dos operários. Por consequência, não é de estranhar que esta concepção invada os estatutos e a literatura. Os "economistas" da ala bernsteiniana escrevem nos seus estatutos: "§ 10. Todos os assuntos do interesse da totalidade da organização são decididos por maioria dos votos de todos os seus membros". Os "economistas" do tipo terroristas repetem atrás deles: "É preciso que as decisões dos comités tenham passado por todos os círculos antes de se tornarem decisões válidas" (Svoboda, n.º 1, P. 67). Observem que essa reivindicação relativa à aplicação ampla do referendo é acrescentada à que deseja que toda a organização seja construída sobre o princípio electivo! Longe de nós, bem entendido, a ideia de condenar por isso os práticos que tiveram tão pouca possibilidade de se iniciarem na teoria e na prática de organizações verdadeiramente democráticas. Mas quando o Rabótcheie Dielo, que aspira a um papel de dirigente, se limita, numa situação como esta, a uma resolução sobre o princípio de uma ampla democracia, por que não dizer de forma simples que unicamente "visa o efeito"? 

 

f) O trabalho à escala local e nacional 

Se as objecções ao "não-democratismo" e ao carácter conspirativo da organi­zação cujo plano foi exposto aqui, estão destituídas de qualquer fundamento, resta ainda uma questão que frequentemente é levantada e merece exame detalhado. É o problema da relação entre o trabalho local e o trabalho em escala nacional. A formação de uma organização centralizada, pergunta-se com inquietude, não leva­rá ao deslocamento do centro de gravidade do primeiro em direcção ao segundo? Isto não prejudicará o movimento, visto que a nossa ligação com a massa operária será enfraquecida e, de maneira geral, também será abalada a estabilidade da agi­tação local? A isso responderemos que, nestes últimos anos, o nosso movimento se tem ressentido precisamente do facto de os militantes locais estarem excessi­vamente absorvidos pelo trabalho local; que é absolutamente necessário, por conseguinte, deslocar um pouco o centro de gravidade em direcção ao trabalho em escala nacional; que esse deslocamento longe de enfraquecer, apenas reforça­rá a nossa ligação com a massa e a estabilidade da nossa agitação local. Tome­mos a questão do órgão central e dos órgãos locais; pedimos ao leitor que não se esqueça que a imprensa, para nós, é apenas um exemplo que ilustra uma acção revolucionária infinitamente maior e diversa, em geral.

No primeiro período do movimento de massa (1896-1898), os militantes locais fizeram uma tentativa de criar um órgão para toda a Rússia: a Rabótchaia Gazeta; no período seguinte (1898-1900), o movimento deu um grande passo em frente, mas a atenção dos dirigentes estava inteiramente absorvida pelos órgãos locais. Se todos esses órgãos locais fossem levados em conta, verificar-se-ia que, em números redondos, se publicava um número por mês.[3] Tal ilustração não é representativa do facto de o nosso trabalho ser artesanal? Isto não mostra de forma evidente que a nossa organização revolucionária se atrasa em relação ao impulso espontâneo do movimento? Se a mesma quantidade de números de jornais tivesse sido publicada não por grupos locais dispersos, mas por uma única organização, não só teríamos economizado uma quantidade de forças, como também o nosso trabalho teria sido infinitamente mais estável e contínuo. Eis uma constatação bastante simples frequentemente esquecida pelos práticos que trabalham activamente de uma forma quase exclusiva nos órgãos locais (infelizmente, isto ocorre ainda hoje na grande maioria das vezes) e pelos publicistas que aqui dão provas de um espantoso quixotismo. O prático contenta-se normalmente em objectar que é "difícil"[4], para os militantes locais, montar um jornal para todo o país, e que é melhor ter jornais locais do que não ter nenhum. Naturalmente, isto é perfeitamente correcto, e para reconhecer a enorme importância e utilidade dos órgãos locais em geral, não necessitamos da advertência de nenhum prático. Mas não é essa a questão; o que importa é saber se não é possível remediar essa dispersão, esse trabalho rudimentar, que o aparecimento de trinta números de jornais locais em toda a Rússia, nestes dois anos e meio, atesta de maneira tão clara. Portanto, não se contentem com uma tese incontestável, porém demasiado geral, sobre a utilidade dos jornais locais em geral; tenham também coragem de reconhecer abertamente os aspectos negativos revelados pela experiência de dois anos e meio. Essa experiência atesta que, dadas as nossas condições, os jornais locais, na maior parte dos casos, são instáveis do ponto de vista dos princípios, não têm penetração política, são excessivamente onerosos no que diz respeito ao dispêndio de forças revolucionárias, e absolutamente insatisfatórios do ponto de vista técnico (não me refiro, bem entendido, à técnica de impressão, mas à frequência e regularidade da publicação). E todos os defeitos indicados não constituem obra do acaso, mas são o resultado inevitável desse esfacelamento que, de um lado, explica a predominância dos jornais locais no período examinado e, de outro, é suportado por essa predominância. Uma organização local, por si mesma, não pode assegurar a estabilidade do seu jornal do ponto de vista dos princípios e elevá-lo ao nível de um órgão político; vai além da sua força reunir e utilizar documentação suficiente para esclarecer toda a nossa vida política. Quanto ao argumento ao qual geralmente se recorre nos países livres para justificar a necessidade de numerosos jornais locais — o facto de terem preços módicos, por serem impressos pelos operários do lugar, e de apresentarem maior amplitude e rapidez de informações à população — esse argumento, conforme o demonstra a experiência, volta-se, entre nós, contra os jornais locais. Estes últimos custam demasiado caro, em relação ao dispêndio de forças revolucionárias, e aparecem em intervalos extremamente espaçados pela simples razão de que um jornal ilegal, por menor que seja, exige um enorme aparelho clandestino, que se é possível montar num grande centro fabril, já não o é numa oficina de artesão. O carácter rudimentar do aparelho clandestino permite ordinariamente (qualquer militante conhece inúmeros exemplos deste género) à polícia realizar prisões em massa, após o aparecimento e a divulgação de um ou dois números, e destruir as coisas ao ponto de ser preciso recomeçar tudo de novo. Um bom aparelho clandestino exige, uma boa preparação profissional dos revolucionários e uma divisão rigorosamente lógica do trabalho. Duas condições absolutamente impossíveis para uma organização local, por mais forte que seja num determinado momento. Sem falar dos interesses de nosso movimento como um todo (educação socialista e uma política operária consequente), os interesses especificamente locais são melhor defendidos por órgãos não locais: à primeira vista isto pode parecer paradoxal, mas, na realidade, é um facto irrefutável, provado pela experiência de dois anos e meio de que já falámos. Todos concordarão que, se todas as forças locais que publicaram trinta números de jornais tivessem trabalhado para um único jornal, esse jornal teria facilmente chegado a sessenta ou até cem números e, por conseguinte, teria reflectido de forma mais completa todas as particularidades puramente locais do movimento. Na verdade, não é fácil atingir este grau de organização, mas também é preciso que tomemos consciência da necessidade de que cada círculo local pense e trabalhe activamente nesse sentido, sem esperar um impulso de fora, sem se deixar seduzir pela acessibilidade, pela proximidade de um órgão local, proximidade que é em grande parte ilusória, como o demonstra a nossa experiência revolucionária.

E os publicistas, que não percebem este carácter ilusório, que acreditam estar especialmente próximos dos práticos e se esquivam do jornal para toda a Rússia com o raciocínio espantosamente fácil e vazio da necessidade de jornais locais e de jornais regionais, afinal só prestam serviços precários ao trabalho práti­co. Em princípio, tudo isso é necessário, evidentemente, mas também é preciso pensar nas condições do meio e do momento quando se aborda um problema concreto de organização. De facto, não é quixotismo dizer, como a Svoboda (nº 1, p. 68), ao "tratar especificamente a questão do jornal" que: "na nossa opinião, cada aglomeração operária algo significativa deve ter o seu próprio jornal. O seu próprio jornal feito por ela, e não trazido de fora". Se este publicista não quer re­flectir no sentido das suas palavras, que o leitor ao menos reflicta por ele: quantas dezenas ou centenas "de aglomerações operárias algo significativas" existem na Rússia e da forma como os nossos métodos artesanais seriam perpetuados se cada organização local começasse realmente a editar o seu próprio jornal! Da forma como esse fraccionamento facilitaria o trabalho da polícia: prender sem qualquer esforço "considerável" "os militantes locais no início da sua actividade”, antes que tivessem tempo de se transformarem em verdadeiros revolucionários! “Num jornal para toda a Rússia,” continua o autor, “seriam fastidiosas as tramas dos fabricantes” e "os pequenos factos da vida de fábrica noutras cidades que não a do leitor", mas "o habitante de Orel não se aborrecerá ao ler o que se passa em Orel. Em cada ocasião pode reconhecer aqueles que 'foram pilhados', os que foram 'perseguidos' e a sua mente trabalha" (p. 69). Sim, naturalmente a mente do habitante de Orel trabalha, mas a imaginação do nosso publicista também "traba­lha" demasiadamente. É oportuno defender assim semelhante mesquinharia? É nisso que deveria reflectir. Naturalmente as revelações sobre a vida das fábricas são necessárias e importantes, isso reconhecemos melhor que ninguém, mas é preciso lembrar que chegámos a uma situação em que os habitantes de Petrogra­do já se cansaram de ler a correspondência petersburguesa do jornal petersbur­guês Rabótchaia Mysl. Para as revelações do que ocorre nas fábricas sempre tivemos e sempre deveremos ter as folhas volantes, mas quanto ao conteúdo do nosso jornal, devemos elevá-lo e não rebaixa-lo ao nível de uma folha volante de fábrica. Quando se trata de um "jornal", é preciso revelar não tanto os "pequenos factos" como os defeitos essenciais, particulares à vida da fábrica, revelações na base de exemplos relevantes e, por conseguinte, susceptíveis de interessar a todos os operários e dirigentes do movimento, enriquecendo verdadeiramente os seus conhecimentos, alargando o seu horizonte, despertando uma nova região, uma nova categoria profissional de operários.

"Em seguida, no jornal local pode-se apreender in loco, ainda quentes, todas as tramas da hierarquia da fábrica ou das autoridades. Ao contrário, com um jornal central, distante, a notícia demoraria a chegar, e quando o jornal saísse o acontecimento estaria esquecido: ‘Quando foi isto, que vá pró diabo quem se lembra!’" (ibid.). Precisamente: para o diabo quem se lembra! Segundo a mesma fonte, os trinta números publicados em dois anos e meio vêm de seis cidades. Isto significa que, em média, há um número a cada seis meses por cidade! Supondo mesmo que o nosso publicista, irreflectidamente, triplica o rendimento do trabalho local (o que seria, absolutamente falso para uma cidade média, pois os nossos métodos artesanais impedem um aumento sensível do rendimento), teremos apenas um número a cada dois meses; portanto, não seria possível "apreender ainda quentes" as notícias: Porém, bastaria que dez organizações locais se unissem e confiassem aos seus delegados a função activa de organizar um jornal comum, para que fosse possível "apreender" não só os pequenos factos, mas os abusos gritantes e típicos de toda a Rússia e isto a cada quinze dias. Aqueles que conhecem a situação nas nossas organizações não podem duvidar disso. Quanto a surpreender o inimigo em flagrante delito, se quisermos levar a sério e não ser levados pela beleza do estilo, um jornal ilegal não poderia sequer pensar nisso: isso só pode ser feito através de folhas volantes, pois a maior parte das vezes, só se dispõe de um ou dois dias (por exemplo, quando se trata de uma greve comum e curta, de um tumulto na fábrica, de uma manifestação qualquer etc.).

"O operário não vive apenas na fábrica, vive também na cidade" prossegue o nosso autor, passando do particular para o geral com um tão rigoroso sentido de sequência que honraria o próprio Bóris Kritchévski. E indica as questões a tratar: as dumas municipais, os hospitais, as escolas, e declara que um jornal operário não poderia silenciar os assuntos municipais. Tal disposição é, em si, excelente, mas mostra bem as abstracções vazias de sentido com as quais nos contentamos com tanta frequência quando se trata de jornais locais. Primeiro, se em "todas as organizações operárias algo significativas" fossem fundados de facto jornais com uma secção municipal tão pormenorizada como quer a Svoboda, isso infalivelmen­te degeneraria em verdadeiras mesquinharias, nas condições russas, enfraquece­ria o sentimento que temos sobre a importância de uma investida revolucionária de toda a Rússia contra a autocracia; reforçaria os germes bastante resistentes — mais dissimulados ou reprimidos do que extirpados — da tendência tornada céle­bre pela famosa frase sobre os revolucionários que falam muito do parlamento ine­xistente, e pouco das dumas municipais existentes. Infalivelmente, dizemos acen­tuando assim que não é isso que a Svoboda deseja, mas o contrário. Não bastam as boas intenções. Para que os assuntos municipais sejam tratados sob uma perspectiva apropriada ao conjunto do nosso trabalho, é preciso, primeiro, que es­sa perspectiva seja perfeitamente definida, firmemente estabelecida não apenas por simples raciocínios, mas também por inúmeros exemplos; é preciso que adqui­ra a solidez de uma tradição. Ainda estamos longe disso, e portanto é preciso co­meçar daí, antes que se possa pensar numa grande imprensa local, ou dela falar.

Em segundo lugar, para escrever verdadeiramente bem e de forma interes­sante sobre os assuntos municipais, é preciso conhecê-los bem, e não apenas através dos livros. Ora, em toda a Rússia, quase não há social-democratas que possuam esse conhecimento. Para escrever num jornal (e não numa brochura po­pular) sobre os assuntos da cidade e do Estado, é preciso ter uma documenta­ção nova, múltipla, recolhida e elaborada por homens competentes. Ora, para recolher e elaborar semelhante documentação, não basta a "democracia primitiva" de um círculo primitivo, no qual todos se ocupam de tudo e divertem com referen­dos. Pa­ra isso, é preciso um estado-maior de escritores especializados, de corres­pondentes especializados, um exército de repórteres social-democratas que esta­beleçam relações de todos os lados, saibam penetrar até nos menores "segredos de Estado" (dos quais o funcionário russo tanto se gaba e com tanta facilidade di­vulga), introduzir-se em todos os "bastidores", um exército de pessoas obrigadas "pelas suas funções" a serem omnipresentes e omniscientes. E nós, partido de lu­ta contra qualquer opressão económica, política, social, nacional, podemos e deve­mos encontrar, reunir, instruir, mobilizar e pôr em marcha esse exército de homens om­niscientes. Porém, isso ainda não está feito! Ora, nada temos realizado nesse sen­tido, na maior parte das localidades, e, frequentemente,  nem sequer temos a cons­ciência necessária para fazê-lo. Procurem na nossa imprensa social-democrata artigos vivos e interessantes, notícias que revelem os nossos assuntos diplomáti­cos, mili­tares, religiosos, municipais, financeiros etc., grandes ou pequenos; quase nada ou muito pouco será encontrado[5]. Por isso, "fico terrivelmente irritado quan­do alguém me vem dizer uma série de coisas muito lindas e notáveis" sobre a ne­cessidade de haver, "em cada aglomeração operária algo significativa", jornais que denunciem os abusos que ocorrem nas fábricas, na administração municipal, e no Estado!

A predominância da imprensa local sobre a imprensa central ou é um indício de miséria ou então de opulência. De miséria, quando o movimento ainda não for­neceu forças suficientes para a produção em grande escala, quando ainda ve­geta nos métodos artesanais e está quase imerso nos "pequenos factos da vida de fá­brica". De opulência, quando o movimento já teve êxito completo no cumprimen­to das suas múltiplas tarefas de divulgação e de agitação, e surge a necessidade de se ter, paralelamente a um órgão central, numerosos órgãos locais. Quanto ao significado da preponderância dos órgãos locais, entre nós, no momento actual, deixo a cada um a preocupação de decidir. Quanto a mim, para evitar qualquer mal-entendido, formularei de forma precisa a minha conclusão. Até agora, a maio­ria das nossas organizações locais pensa quase que exclusivamente nos órgãos locais: ocupam-se activamente apenas desses últimos. Isto não é normal. Pelo contrário, é preciso que a maioria das organizações locais pense principal­mente na criação de um órgão para toda a Rússia, que disso se ocupe. Enquanto não for assim, não poderemos publicar nem mesmo um único jornal que seja capaz de servir verdadeiramente o movimento através de uma abrangente agitação pela impren­sa. E quando isso ocorrer, as relações normais entre o órgão central indis­pensável e os indispensáveis órgãos locais serão estabelecidas por si próprias.

***

À primeira vista pode parecer que a necessidade de deslocar o centro de gravidade, do trabalho local para o trabalho à escala nacional, não é indicada no terreno da luta económica pura. Aqui, o inimigo directo dos operários é representado pelos empregadores isolados ou grupos de empregadores não ligados entre si por uma organização que lembre, mesmo que apenas longinquamente, uma organização puramente militar, estritamente centralizada, dirigida nos menores detalhes por uma vontade única, como é a organização do governo russo, nosso inimigo directo na luta política.

Mas, não é assim. A luta económica — já dissemos milhares de vezes — é uma luta profissional, e por isso exige o agrupamento dos operários por profissão, e não unicamente por local de trabalho. E esse agrupamento por profissões é tanto mais urgente quanto maior for a precipitação dos empregadores em se agruparem em sociedades e sindicatos de toda a espécie. O nosso fraccionamento e os nossos métodos artesanais travam nitidamente este agrupamento, que necessita de uma só organização de revolucionários para toda a Rússia, capaz de assumir a direcção das associações profissionais operárias á escala nacional. Expusemos acima o tipo de organização apropriada; acrescentaremos a seguir algumas palavras apenas em relação à nossa imprensa.

Ninguém contesta que todo o jornal social-democrata deva trazer uma sec­ção dedicada à luta profissional (económica). Mas o crescimento do movimento profissional obriga-nos a pensar também na criação de uma imprensa profissio­nal. Contudo, parece-nos que, com raras excepções, ainda não é possível colocar, na Rússia, tal questão: é um luxo quando frequentemente nos falta o pão de cada dia. Em matéria de imprensa profissional, a melhor forma adaptada às condições actu­ais do trabalho ilegal, a forma desde hoje necessária, seria a brochura por profis­são. Nela deveria ser coligida e agrupada sistematicamente a documentação legal[6] e ilegal sobre as condições de trabalho nesta ou naquela profissão, o que dis­tingue a esse respeito as diferentes regiões da Rússia, as principais reivindica­ções dos operários de uma dada profissão, as insuficiências de legislação a que ela se refere; sobre os exemplos mais relevantes da luta económica dos operários desta ou daquela corporação; sobre o início, o estado actual e as necessidades da sua organização sindical etc. Inicialmente, estas brochuras necessitariam que a nossa imprensa social-democrata fornecesse uma série de detalhes profissionais que interessassem especialmente os operários de uma determinada profissão; em seguida, reproduziriam os resultados da nossa experiência na luta sindical, con­servariam a documentação colectada, que hoje literalmente se perde na massa de folhas volantes e publicações fragmentárias, e generalizariam essa documentação. Em terceiro lugar, poderiam servir, de alguma forma, como guia para os agitado­res, uma vez que as condições de trabalho se modificam de forma relativamente lenta, e as reivindicações essenciais dos operários de uma determinada profissão são muito estáveis (comparem as reivindicações dos tecelões da região de Mos­covo, em 1885, e as da região de Petrogrado, em 1896). O resumo dessas reivin­dicações e necessidades poderia constituir, durante anos, um excelente manual para a agitação económica nas localidades atrasadas ou entre as categorias de operários mais atrasadas. Os exemplos de greves vitoriosas, em determinada re­gião, os dados ilustrando um nível superior de vida e de melhores condições de trabalho numa determinada localidade, encorajariam os operários de outras locali­dades a novas lutas. Enfim, tomando a iniciativa de generalizar a luta profissional e reforçando, assim, a ligação do movimento profissional russo com o socialismo, a social-democracia trabalharia simultaneamente para que a nossa acção sindical ocupasse um lugar, nem muito grande nem muito pequeno, no conjunto do nosso trabalho social-democrata. É muito difícil, quase impossível, para uma organização local, isolada das organizações de outras cidades, observar na justa proporção esse aspecto (e o exemplo da Rabótchaia Mysl indica o monstruoso exagero a que se pode chegar, em termos de sindicalismo). Mas uma organização de revolucio­nários para toda a Rússia, que se mantenha deliberadamente ligada ao ponto de vista do marxismo, que dirija toda a luta do ponto de vista do marxismo, que dirija toda a luta política e que disponha de um estado-maior de agitadores profissionais, jamais terá dificuldades para estabelecer essa justa proporção.

 

V Parte - 1

[1] Cf . As tarefas dos sociais-democratas russos, p. 21, polémicas contra PL Lavrov. (Ver Obras Escolhidas, vol 2, pp 340-41 -Ed....) – Lenine.

[2] As Tarefas dos Sociais-Democratas Russos, p. 23. Ilustração suplementar do facto de que o Rabótcheie Dielo ou não compreende bem o que diz, ou muda de opinião "segundo o vento". Assim, no Rabótcheie Dielo, nº1. vemos a frase, seguinte impressa em itálico: "O conteúdo da brochura coincide inteiramente com o programa da redacção do "Rabótcheie Dielo" (p. 142). Verdade? A recusa de se atribuir como primeira tarefa do movimento de massa o derrube da autocracia corresponde ao ponto de vista do As tarefas? A teoria da “luta económica contra os patrões e o governo” corresponde à do As tarefas? E a teoria dos estádios? Fica ao leitor a liberdade de julgar a solidez dos princípios de um órgão que compreende de maneira tão original as "coincidências de opinião". – Lenine.

[3] Ver o Relatório ao Congresso de Paris, p. 14: "Desde essa época (1897) até à primavera de 1900 foram publicados em diferentes lugares trinta números de jornais diferentes... Em média, mais de um número por mês". – Lenine.

[4] Essa dificuldade é apenas aparente. Na realidade, não há círculo local que possa preencher essa ou aquela função de um trabalho de interesse para toda a Rússia. "Não diga: eu não posso; diga: não quero". – Lenine.

[5] Eis porque mesmo o exemplo de órgãos locais muito bem-feitos confirma inteiramente o nosso ponto de vista. Assim, o Yuzhni Rabochi (O Operário do Sul) é um excelente jornal, que não pode ser acusado de instabilidade de princípios. Mas como aparece raramente é alvo de numerosas prisões policiais, e não pode oferecer ao movimento local aquilo a que se propõe. O que é mais necessário ao Partido, no momento presente – colocar, em princípio, os problemas fundamentais e proceder a ampla agitação política – o órgão local não pode realizar. E o que apresentou de melhor, como os artigos sobre os congressos dos proprietários de minas, o desemprego etc., não era de interesse estritamente local, mas geral, para toda a Rússia e não apenas para o Sul. Em toda a nossa imprensa social-democrata, ainda não tivemos artigos como esses. – Lenine.

[6] A documentação legal é de especial importância a esse respeito, e estamos longe de saber colectá-la e utilizá-la com método. Não é exagero dizer que apenas com a documentação legal pode-se escrever uma brochura sindical, e que e impossível fazê-lo apenas com a documentação ilegal. Colectando entre os operários a documentação ilegal sobre questões como as tratadas pela Rabótchaia Mysl, desperdiçamos inutilmente as forças dos revolucionários (que facilmente poderiam ser substituídos nesse trabalho pelos militantes legais) sem obter, contudo uma boa documentação. De facto, os operários, conhecem de ordinário apenas uma oficina de uma única grande fábrica; quase sempre conhecem os resultados económicos, mas não as condições e normas gerais do seu trabalho; não podem adquirir os conhecimentos que possuem os empregados de fábrica, inspectores, médicos etc., e que estão dispersos nas pequenas publicações de jornais e publicações especiais das indústrias, serviços sanitários, dos zerntsvos, etc.

Sempre me lembro de minha "primeira experiência", que não desejaria repetir. Durante semanas interroguei "com toda decisão" um operário que veio até mim, sobre os menores detalhes do regime da grande fábrica onde trabalhava. Com grande dificuldade consegui fazer a descrição (de uma única fábrica!), Porém, às vezes, no fim da nossa conversa, o operário enxugando a testa me dizia sorrindo: "É mais fácil fazer horas extras do que responder às suas perguntas!"

Quanto mais energicamente conduzirmos a luta revolucionária, mais o governo será obrigado a legalizar uma parte de nosso trabalho "sindical", o que nos livrará de parte da nossa carga. – Lenine.


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publicado por portopctp às 22:00
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