I
O QUE É O M.R.P.P.?
O MOVIMENTO REORGANIZATIVO DO PARTIDO DO PROLETARIADO (M.R.P.P.) é a organização embrionária do futuro Partido Revolucionário do Proletariado Português. Rege-se na sua linha política e nos seus métodos de organização pelos princípios do marxismo-leninismo e pela experiência histórica da luta proletária nacional e internacional contra o capitalismo e o imperialismo, contra o oportunismo e o revisionismo, pela construção do socialismo. O seu objectivo estratégico é conduzir a classe operária na conquista do poder pela Revolução Socialista, através da etapa da Revolução Popular. Mas para que tal condução seja possível e vitoriosa, põe-se-lhes como necessidade táctica central e primeira o reagrupamento e organização dos trabalhadores comunistas e de todos os marxistas-leninistas num verdadeiro e novo Partido Revolucionário do Proletariado. Tal objectivo tornou-se imprescindível pelo domínio da organização proletária existente (P«C»P) por uma fracção da burguesia que trai e paralisa a luta da classe operária e dos explorados pelos seus fins próprios, pondo-a a reboque dos interesses reformistas e oportunistas da pequena e média burguesia. O P«C»P não é mais que uma frente de penetração burguesa no seio do proletariado, para o amarrar e pôr ao seu serviço como tropa de choque. Não é uma organização ao serviço da classe operária, ainda que continue a ter (cada vez menos) uma base social em certa medida trabalhadora.
Por outro lado, desde 1964 que, em tentativas infrutíferas, procuraram várias forças reconstituir o Partido. Compreender o processo de controlo pela pequena burguesia da direcção do P«C»P desde a sua fundação, por um lado, estudar as razões políticas do falhanço de todas as tentativas para superar revolucionariamente o domínio reformista-revisionista, por outro, eis o caminho correcto para que possamos hoje finalmente progredir: sintetizar a experiência para fortalecer a nossa teoria por forma a que ela seja um verdadeiro agente de transformação da realidade.
Neste primeiro número do «BANDEIRA VERMELHA» vamos tratar essencialmente do primeiro aspecto.
II
PRECISA A CLASSE OPERÁRIA DE TER UMA VANGUARDA DIRIGENTE PARA TRIUNFAR?
1. É importante respondermos com clareza a esta pergunta, posto que a aparente evidência de uma resposta afirmativa tem abrigado, ao longo da história do movimento operário, posições radicalmente distintas e que envolvem a própria concepção sobre a natureza e fins da luta do proletariado. As discussões acerca do que seja a vanguarda da classe operária e sobre a necessidade da sua existência, puseram-se e põem-se com particular agudeza nos momentos de crise, de refluxo, de desagregação ou de embrião do movimento operário, quando nele não existe uma direcção firme e correcta, quando a dúvida e a desorientação campeiam. Então, ciclicamente, as velhas concepções, os velhos oportunismos renascem dos túmulos onde só aparentemente estavam enterrados: o cerco da classe que os gera não desapareceu e o contra-ataque da sua ideologia retoma alento perante o fraquejar das forças revolucionárias. O oportunismo não é uma «teoria» esmagável por uma outra «teoria» não oportunista num dado momento histórico e para sempre. É o produto ideológico de uma classe. No seio do movimento operário, é o produto ideológico da pequena burguesia radical nele infiltrada. O seu aniquilamento prende-se pois, à própria dinâmica da luta de classes. Só o proletariado revolucionário pelo reforço das suas posições à luz de uma teoria revolucionária, pela sua prática por ela correctamente orientada, pode expurgar as degenerescências burguesas no seu seio e denunciar as suas «teorias» e posições. Por isso os momentos de refluxo da luta são momentos de desorientação e de reedição oportunista.
É numa altura de dispersão e fraqueza do movimento socialista russo, em 1901-1902, que as concepções espontaneístas negadoras do papel de vanguarda e dirigente político do Partido do Proletariado dominam no movimento operário daquele país. É numa altura de refluxo da luta de classes em Portugal que ressurgem à tona, com colorações diversas e disfarces pouco enganadores, as posições imediatistas e «trade-unionistas», hoje dominantes na luta operária portuguesa, e as suas tentativas de «superação» anarquizantes e anarco-sindicalistas.
A reorganização da vanguarda política do proletariado português passa necessariamente pela explicação, detecção e isolamento destas duas tendências inimigas dos interesses revolucionários dos trabalhadores. Chegaremos lá começando por ver qual a posição marxista-leninista sobre esse problema.
2. Decorre da própria concepção materialista da História a constatação que, na fase do capitalismo e do seu estádio supremo, o imperialismo, de todas as classes que combatem tal sistema ou por ele exploradas, a única verdadeira e consequentemente revolucionária é o proletariado. Marx explicou-o dizendo que «de todas as classes que se opõem actualmente à burguesia só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes declinam e perecem com a grande indústria; o proletariado ao contrário é o seu produto mais autêntico». De facto, o proletariado é a classe trabalhadora ligada à forma mais avançada da economia, a grande produção. Cresce e desenvolve-se com a sua concentração, contrariamente ao campesinato e aos estratos arruinados da burguesia cuja decomposição é o produto directo de tal desenvolvimento e que lhe resistem «procurando fazer andar para trás a roda da História». A concentração cada vez maior da indústria e do seu «produto mais autêntico», o proletariado, permite a este um rápido desenvolvimento da consciência de classe e propicia-lhe, pelas próprias condições do trabalho, uma especial aptidão para a resistência à exploração e organização na defesa dos seus interesses e na luta pela sua libertação. Fruto do desenvolvimento capitalista, ele integra a sua primeira contradição. É a única classe naturalmente apta a superá-la, a única que com a revolução «só tem a perder as suas cadeias».
Mas enquanto classe, subjectivamente, o proletariado não gera espontaneamente a consciência da sua missão histórica e do seu papel revolucionário no processo de produção e na luta de classes. Não gera por si próprio, pela sua situação social, uma consciência socialista que lhe permita a interpretação global da sua posição relativamente às outras classes e à luz da qual possa forjar os instrumentos teóricos e práticos da sua libertação. «A história de todos os países, diz Lenine, atesta que unicamente com as suas forças, a classe operária não pode chegar senão à consciência tradeunionista, ou seja, à convicção de que é preciso unir-se em sindicatos, travar a luta contra o patronato, reclamar do governo estas ou aquelas leis necessárias aos operários, etc…». (Lenine: Que fazer?). Por seu turno, a doutrina socialista, a consciência socialista, «nasceu de teorias filosóficas, históricas e económicas elaboradas pelos representantes instruídos das classes dominantes, os intelectuais», (idem) (os únicos estratos com acesso ao conhecimento científico, dada a sua posição social e a repartição de trabalho existente na sociedade capitalista) e desenvolveu-se «de uma forma completamente independente do crescimento espontâneo do movimento operário», não se engendrando uma na outra mutuamente. Por isso, conclui Lenine, «a consciência política de classe não pode ser levada ao operário senão do exterior, quer dizer, do exterior da luta económica, do exterior da esfera de relações entre operários e patrões». Esta importação da ideologia socialista no proletariado e a sua firme condução política, na teoria e na prática, só pode ser realizada pela constituição de um destacamento de vanguarda relativamente à própria classe. Uma organização que, mergulhando profundamente nas aspirações do proletariado, agrupe os seus mais firmes e experientes elementos e os seus quadros revolucionários, numa vanguarda, como sua fracção mais consciente, como seu estado-maior: «Só o partido revolucionário do proletariado PODE SER ESSE ESTADO-MAIOR» (Estaline: Princípios do Leninismo). O Partido está à cabeça da classe operária, vê mais longe que a classe operária, fá-la subir da espontânea consciência trade-unionista à consciência socialista e existe enquanto existir a luta de classes para defesa de posições do proletariado, e para a efectivação do seu papel histórico. Só dirigida pelo seu Partido a classe operária conquistará o poder. Defender o contrário, defender como fizeram os economistas-espontaneístas, que o proletariado pela sua luta imediatista e puramente económica é espontaneamente conduzido à consciência política e que, por isso, só é desejável a luta que é possível a este nível primário de consciência de classe, não devendo os revolucionários «forçar» ou «impor de fora» objectivos que a classe é incapaz de atingir, representa, como Lenine o denunciou, uma diminuição do papel da ideologia revolucionária na luta de classes, uma subordinação do movimento operário à ideologia burguesa, um rebaixamento da política socialista à política trade-unionista, sendo que «a política trade-unionista da classe operária é precisamente a política burguesa da classe operária».
Nesta linha, historicamente, o espontaneísmo economista negou a necessidade da existência de uma vanguarda destacada da classe como seu «elemento consciente» e dirigente, confundindo a natureza da luta sindical e dos sindicatos com a da luta partidária e do Partido, pondo esta a reboque daquela. De braço dado com este oportunismo direitista anda um outro esquerdista: o «revolucionarismo» anarquista, pregando a luta política, entendia que ela não tinha nem devia ser conduzida «do exterior» da classe operária por uma organização revolucionária, mas sim pelas próprias organizações trabalhadoras de massas, visando a «greve geral política» ou o «terrorismo excitativo» que fizesse despertar o proletariado do seu «torpor». Economismo e anarco-sindicalismo foram e são as duas vestes diferentes do oportunismo pequeno-burguês contrário ao papel do partido como organização de vanguarda e consequentemente contrário à libertação da classe operária. A edificação do Partido do Proletariado passou e terá de passar pelo isolamento e destruição de tais bolsas oportunistas no seio da classe operária.
Vejamos a manifestação actual de tais tendências no nosso país.
3. Sossegam-se os revisionistas afirmando que falar em economismo no movimento operário português actual é uma enormidade sem pés nem cabeça: não existe o P«C»P como vanguarda da classe operária? Não se reconhece a necessidade da luta política distinta da económica e importada no proletariado por tal partido como forma de elevar a sua consciência a um nível superior?
Claro que para nós, marxistas-leninistas, esta «argumentação» não nos cega, posto que toma o economismo como uma forma, ou seja, como um conjunto de manifestações organizativas desligadas da sua raiz de classe, da sua verdadeira natureza política. O espontaneísmo, como tendência burguesa no seio do proletariado, caracteriza-se pelo bloqueamento da luta deste no imediatismo das suas reivindicações espontâneas. Impede objectivamente a classe operária de, por uma politização e direcção conduzidas pela sua vanguarda consciente, se aperceber do seu papel no conjunto das relações sociais e do processo produtivo e consequentemente de se lançar numa luta pela destruição do sistema capitalista. Quer dizer: restringe a luta do proletariado aos limites necessários à preservação da estrutura e da exploração capitalista. Historicamente este resultado pode ser conseguido por caminhos, por formas diversas: quer negando o papel partidário de vanguarda distinta das massas ao seu destacamento mais consciente e combativo, quer, após a sua organização, pelo assenhoreamento dele por uma fracção direitista e pequeno-burguesa que imprima ao partido uma orientação que se traduza no efectivo bloqueio e sabotagem da luta revolucionária, alienando o movimento aos interesses classistas da burguesia, impedindo-o de, no seu crescimento os atingir.
Dum lado trai-se, recusando como princípio o papel de vanguarda do Partido; do outro trai-se igualmente negando na prática ao Partido constituído um papel de vanguarda e transformando-o num bastião burguês no seio da classe operária. As Uniões Socialistas espontaneístas da Rússia, em 1903, negavam como posição política o carácter vanguardista do Partido. A direcção do P«C»P defendendo na teoria essa natureza, na prática aproveita-se do Partido como instrumento de manutenção do carácter primário da luta proletária, pondo-a à trela do reformismo burguês. Duas concepções de Partido só aparentemente diferentes: duas formas de manifestar o mesmo controlo da burguesia no movimento operário.
As posições anarco-sindicalistas, por seu turno, levam igualmente a água ao mesmo moinho do capitalismo. Com fortes tradições na luta operária em Portugal, esta concepção pequeno-burguesa e o domínio ideológico pequeno-burguês em geral, é um dos principais responsáveis pelas derrotas da classe operária portuguesa na sua luta antifascista e anticapitalista. Tendo deixado fortes raízes ideológicas e políticas no movimento comunista aquando da sua constituição em Portugal, pode dizer-se que a ele foram beber todos os oportunistas, todas as tentativas da pequena burguesia portuguesa para se assenhorear (com êxito) do movimento operário. Se, mercê de condicionalismos que adiante veremos, foi a facção radical-reformista daquele estrato que de há longa data se apoderou da direcção da luta proletária e a pôs ao seu serviço, é todavia a sua ala radical-revolucionarista que, no geral, tem encabeçado politicamente as tentativas de «superação» do revisionismo. A acção «anti-revisionista» visível, politicamente organizada, no nosso país, salvo poucas excepções, objectivamente não tem sido mais do que a tentativa de uma fracção da pequena-burguesia para expulsar outra na direcção do movimento operário. Isto independentemente da intenção e da coragem individual de alguns dos seus promotores; isto como resultado global e objectivo: verdadeiros marxistas-leninistas, eminentes teóricos do proletariado português estiveram ligados a tais tentativas, mas a sua influência pessoal não conseguiu impôr um cunho verdadeiramente revolucionário a tal acção. É isto que explica que à prática eminentemente aventureira e pequeno-burguesa do geral dessas movimentações estejam ligados vários documentos históricos de ruptura teórica com o revisionismo, que constituem património valiosíssimo da teoria revolucionária portuguesa. Negando na prática a necessidade do partido e pretendendo substituí-lo quer pelo próprio movimento das massas enquanto tal, quer por acções de «terrorismo excitativo» completamente desligado da organização do partido e das massas, quer por eclécticas e empíricas «Frentes» pluriclassistas, anarquismo e anarco-sindicalismo satisfazem as necessidades da burguesia: manter desorganizada a vanguarda revolucionária do proletariado ou suicidá-la em aventuras desesperadas.
Revisionismo economista e anarquismo são as mordaças da mesma classe, que têm paralisado a reorganização marxista-leninista do Partido do Proletariado. Até agora.
O Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado representa o esforço ainda embrionário do proletariado para tomar finalmente as rédeas da luta nas suas mãos, antes de mais pela reconstituição da sua vanguarda. Mas para o poder fazer com êxito, tem de saber sintetizar a experiência passada do movimento operário.
É isso que passamos a fazer, analisando mais detalhadamente as experiências oportunistas na acção do proletariado português, começando, neste primeiro artigo, pelo estudo da experiência mais significativa e prolongada no tempo: o controlo do P«C»P pela pequena burguesia radical, com predomínio permanente e claro desde 1956, da ala reformista e revisionista.
Vamos historiar nos seus aspectos fundamentais a evolução do P«C»P até aos nossos dias, pois nela se reúne, pelo menos até 1964, o essencial da direcção da luta proletária portuguesa.
III
QUAL A RAZÃO DO PREDOMÍNIO POLÍTICO DA PEQUENA-BURGUESIA NA DIRECÇÃO DO MOVIMENTO OPERÁRIO PORTUGUÊS DESDE O SEU APARECIMENTO?
O movimento operário português foi ao longo da sua história uma presa normalmente fácil da direcção oportunista da pequena-burguesia radical. O motivo desta debilidade endémica da luta proletária portuguesa tem de ser encontrada em razões particulares, inerentes às características do capitalismo português. Assim constatamos que:
1.º) A base social do movimento operário, a classe operária, reflectiu a incipiência e o atraso do capitalismo português até à segunda guerra, com uma diminuta base industrial, assente numa estrutura empresarial artesanal e dispersa. A classe operária encontrava-se consequentemente dispersa, apresentando características mais de artesanato industrial: não existia um proletariado antigo, numeroso e concentrado, acumulado de experiências passadas, temperado numa luta histórica que tivesse permitido forjar as armas de uma organização, de quadros e de uma consciência verdadeiramente revolucionárias. País economicamente dependente, de indústria inexistente ou artesanal, com um colonialismo de herança, serôdio e não correspondendo às necessidades de exportação de capitais da fase imperialista de então, eis a imagem do capitalismo português no início deste século, e que não vai sofrer alterações estruturais profundas até à Segunda Guerra mundial.
2.º) A fraqueza daqui resultante par o movimento operário, veio permitir que a direcção da sua luta, desde as suas primeiras manifestações politicamente organizadas (fundação do Partido dos Operários Socialistas Portugueses em 1875), tenha pertencido à pequena-burguesia radical, que alternativamente, lhe foi dando um cunho reformista social-democrata ou anarquista e libertário.
No século XX, e a partir da 1.ª guerra, as grandes lutas operárias caem sob a direcção política do anarquismo e do anarco-sindicalismo pequeno-burgueses. Esta posição amplamente dominante na luta proletária portuguesa desde o princípio do século até aos primórdios dos anos 30, não só conduzirá o movimento operário a grandes derrotas e desmobilizações que permitirão o advento do fascismo, como deixará raízes e vícios oportunistas de toda a espécie na prática e na teoria da luta, dos quais o P«C»P nunca se conseguirá libertar.
Nascido sob a tutela oportunista da pequena burguesia radical, experimentado no seu reformismo direitista ou no seu aventureirismo anarquista, o movimento operário até aos nossos dias não se conseguiu libertar da dependência ideológica e política daquela fracção da burguesia.
Não quer isto significar que ao longo de todo este período de sujeição não tenha o proletariado português travado grandiosas e corajosas lutas revolucionárias, lutas que constituem um património indiscutível do movimento revolucionário. Quer sim significar que tais lutas foram normalmente traídas ou desperdiçadas pela direcção pequeno-burguesa, não foram levadas frequentemente às suas últimas consequências saldando-se em derrotas e desmobilizações. Deve aliás notar-se que os períodos de fluxo revolucionário na história da luta proletária portuguesa correspondem normalmente a momentos de maior pressão da base e dos quadros mais militantes das organizações que, fruto de condicionalismos favoráveis, conseguem temporariamente forçar o movimento em determinado sentido, sem nunca se conseguirem apossar da sua direcção ou mudar a sua linha política no essencial. Os períodos de grandes lutas operárias e camponesas têm correspondido portanto a pressões ou a tentativas de ruptura de fracções ou da base, cujo êxito foi limitado no tempo e que não lograram qualquer continuidade revolucionária.
É neste sentido que se deve interpretar a fundação do P«C»P em 1921, como uma tentativa frustrada de ruptura marxista-leninista com o domínio pequeno-burguês no movimento proletário.
IV.O QUE SIGNIFICAM PARA O PROLETARIADO PORTUGUÊS, 50 ANOS DE DIRECÇÃO POR PARTE DO P«C»P?
A fundação do P«C»P foi a primeira tentativa histórica de romper com a direcção pequeno-burguesa do movimento operário. Tentativa que desde o seu início se frustrou, que nunca possibilitou o enraizamento de um verdadeiro controlo marxista-leninista: sem uma classe operária concentrada, numerosa e experimentada por gerações de luta; sem uma teoria revolucionária minimamente elaborada que permitisse o isolamento e a denúncia do predomínio até aí existente das concepções oportunistas; com um nível ideológico baixíssimo vogando no empirismo e sujeito a uma férrea repressão, o P«C»P nasceu sem força política, sem organização e sem uma clara linha de ruptura revolucionária com o oportunismo radical pequeno-burguês.
A sua histttória vai ser o longo itinerário do controlo da pequena burguesia que se consegue instalar desde a fundação no seio do partido pendendo ciclicamente para a aventura ou para o direitismo, com certos períodos de predomínio da prática proletária onde quase sempre se nota um recrudescimento da luta popular. Períodos em que fracções revolucionárias ou de base, apoiadas em favoráveis condições objectivas, conseguem provisoriamente imprimir uma prática proletária: uma prática, pois mesmo nestes intervalos a direcção e a linha política permanecem essencialmente inalteráveis, retomando o controlo oportunista das lutas, fazendo o movimento recuar, reinstalando rapidamente a sua efectiva direcção.
Deve notar-se que, se bem que globalmente possamos detectar na história do P«C»P desvios aventureiros anarquizantes e desvios direitistas, é o direitismo sob a forma da «concórdia» inter-classista, da pactuação com a média burguesia, da renúncia aos interesses próprios do proletariado, que desde os anos 30, com um pequeno intervalo entre 1950 e 1956, domina na teoria política, na linha do P«C»P. Na teoria desde esta época, e na prática principalmente desde 1956 até hoje. Isto dado que na prática de luta dos anos 30 e entre 1943 e 1949, como veremos, revela-se por vezes, com características revolucionárias e de independência relativamente aos interesses dos vários estratos da burguesia.
Porque entre 1929 e os nossos dias a força dominante na direcção da luta operária vai ser o P«C»P, porque, mal ou bem, será essencialmente sob o seu enquadramento que durante todos estes anos as massas populares travarão as suas principais batalhas; porque este longo período de domínio da direcção pequeno-burguesa de tais lutas conduziu o proletariado a um acentuadíssimo estado de desmobilização, lhe imprimiu concepções práticas oportunistas, lhe boicotou a sua consciencialização revolucionária; porque hoje queremos sintetizar a experiência passada para podermos avançar sob a bandeira do marxismo-leninismo, por tudo isto há que estudar atentamente o que significou para o proletariado esta longa caminhada do oportunismo na sua luta e dela retirar as devidas lições.
É isso que, nos seus traços essenciais, iremos fazer neste primeiro artigo, analisando as diversas fases da história do P«C»P no que têm de politicamente mais significado.
A
1.º fase: de 1929 a 1942
Extremamente débil, como vimos, desde a sua nascença, o P«C»P, fundado em 1921, não teve praticamente existência até 1929, ano em que se realiza a Conferência Nacional do P«C»P onde se lançou a sua organização, com um pequeno punhado de unicamente 30 quadros, no essencial de origem e formação anarco-sindicalista.
Em toda esta fase se vai sentir no P«C»P vogando sem uma linha política global táctica e estratégica, definida aos sabor do empirismo, numa nítida influência de golpismo radical pequeno-burguês. Vários dos seus quadros estão envolvidos em golpes e revoltas dessa altura e relacionados com a maçonaria. A sua organização é diminuta, assentando praticamente nos artesãos, operários, camponeses pobres, marinheiros, intelectuais e estudantes da região de Lisboa e do Sado, estando exactamente devido ao seu pendor anarquizante e golpista, sujeita a uma constante repressão que impediu na prática, durante este período, qualquer enraizamento autêntico nas massas populares: 1935 a 1942 o P«C»P terá um Secretariado todos os seis meses e não possui um Comité Central; em 1942 está reduzido a 5 funcionários, 2 casas ilegais, uma tipografia e sem fundos.
Esta debilidade organizativa e o predomínio de orientações anarquizantes durante esta fase, fazem o P«C»P cair no esquerdismo sectário (até 1935, desvio corrigido no 7.º Congresso da Internacional Comunista) ou tornam-no permeável à provocação (em 1937 a organização de Lisboa é dominada por grupo de provocadores), impedem o seu enraizamento e a instalação duma efectiva direcção marxista-leninista. É tudo isto que motivará nesta altura a sua expulsão da Internacional Comunista onde só mais tarde (194?) será readmitido.
Saliente-se, no entanto, que o P«C»P vai estar à frente de importantes batalhas populares nesta fase, algumas porém, nítido reflexo da referida orientação golpista. Esta fase tem todavia a característica de uma elevada militância e espírito de sacrifício por parte dos quadros do P«C»P, única organização estruturada a resistir clandestinamente ao fascismo e que encabeçou, a despeito dos referidos desvios, algumas lutas objectivamente revolucionárias e independentes: a revolta dos marinheiros de 1936, a grande agitação de 1937 a 1938, com o «Avante» saindo semanalmente, importantes lutas estudantis, etc..
É extremamente importante notar, que simultaneamente com o empirismo político e organizativo e a tendência golpista, o domínio ideológico radical pequeno-burguês a partir de 1933 começou a manifestar-se, quanto ao trabalho unitário, já com nítidas características de pactuação inter-classista. A «restituição ao povo português de todas as liberdades democráticas conquistadas pelos nossos antepassados desde 1820 a 1910 e que a ditadura lhes arrancou» (in «Contestação à secretaria do Tribunal Militar especial» de Bento Gonçalves em 1936) pedida por Bento Gonçalves já ultrapassava no seu significado a pura e simples defesa (aliás correcta) da unidade anti-fascista: dissolvia nessa unidade os interesses do proletariado nascente, nos dos seus «antepassados» da burguesia liberal, omitia o carácter chauvinista e colonialista dos interesses passados e actuais de tal burguesia, afirmando mesmo o P«C»P, na continuidade de tais interesses: «…Nós vimos desse povo que criou a «Portuguesa» onde se encerra mais a ideia da Nação, do que tudo o que poderá conter a este respeito toda a Torre do Tombo dos decretos e das notas oficiosas do Estado Novo» (in citada «Contestação…» de B. Gonçalves).
Aqui reside o cerne ideológico da direcção pequeno-burguesa radical do P«C»P, até hoje a «concórdia e fraternidade» anti-fascista, o sacrifício dos interesses próprios do proletariado.
(a seguir)
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