«Como ligar uma à outra a teoria marxista-leninista e a realidade da revolução chinesa? É preciso, para utilizar uma expressão corrente, «disparar a sua flecha visando o alvo». O marxismo-leninismo está para a revolução chinesa como a flecha para o alvo. Ora, alguns dos nossos camaradas «disparam a sua flecha sem visar o alvo», disparam ao acaso. Tais camaradas correm o risco de comprometer a causa da revolução. Outros contentam-se em mirar e remirar a flecha entre os dedos exclamando: «que bela flecha! Que bela flecha!» mas não têm a mínima intenção de a disparar. Não são, no fundo, mais do que simples apreciadores de quinquilharias que não querem saber da revolução para nada. Devemos lançar a flecha do marxismo-leninismo tendo por objectivo a revolução chinesa, se este ponto não for esclarecido, o método teórico do nosso Partido jamais poderá elevar-se e a revolução chinesa triunfar.»[1]
1. O «BANDEIRA VERMELHA» cujo 1.º número vê a luz do dia neste ano do centenário de Lenine, é o órgão teórico central do M. R. P. P. (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado), é o instrumento com que daqui para o futuro os marxistas-leninistas portugueses na sua tarefa de reorganizar revolucionariamente o Partido vão lançar as bases para o aprofundamento e criação da teoria da revolução portuguesa assente nos três pontos seguintes, decorrentes dos princípios fundamentais do trabalho teórico marxista-leninista:
-- estudo sistemático e profundo da realidade actual portuguesa e do estado actual da luta de classes em Portugal, ou seja, como diz o camarada Mao Tsé-tung, «conhecer a situação tal como ela é e saber bem aplicar a política, quer dizer, conhecer o mundo e transformá-lo»[2];
-- estudo organizado e científico da história de Portugal desde o advento do capitalismo, em particular do movimento operário;
-- estudo do marxismo-leninismo à luz do princípio da relação dialéctica entre a teoria e a prática, ou seja, assentando o trabalho teórico sobe os principais aspectos práticos de experiência da luta, recusando o dogmatismo estático e abstracto.
Neste jornal, bem como nas edições «BANDEIRA VERMELHA», eis os princípios que guiarão a nossa luta teórica. E é precisamente o respeito por tais princípios, o entendimento dialéctico da teoria como síntese da prática e agente da sua transformação, que nos permitirá brandir o «BANDEIRA VERMELHA» como a arma da luta ideológica que a partir de hoje, e sem tréguas, travaremos contra dois inimigos que têm paralisado decisivamente a reorganização revolucionária do proletariado: o praticismo cego e o dogmatismo esclerosado.
O praticismo, o empirismo, o culto da prática pela prática, têm sido utilizados pelos revisionistas e reformistas para sabotar a consciencialização política da classe operária e dos camponeses, para colocar docilmente e sem problemas a luta dos trabalhadores ao serviço da fracção radical pequeno-burguesa dirigente do P«C», para enquadrar sem oposição nem resistências os movimentos populares sob a tutela do eleitoralismo, do reformismo e do pacifismo da grande «confraternização democrática» da burguesia. A direcção do P«C»P, sabotando de há longa data e intencionalmente a criação de uma verdadeira consciência revolucionária na classe operária, originou no proletariado português um estado de profunda desmobilização e atraso políticos, de grande permeabilidade aos oportunismos reformistas ou pseudo-radicais, de falta de vigilância política de classe, condições necessárias para atrelar, como até aqui facilmente conseguiu, a luta do proletariado aos interesses da pequena e média burguesia.
Lutar contra o empirismo pela elevação da espontânea consciência de classe à consciência marxista-leninista, lutar contra o culto da prática pela divulgação do método concreto de a interpretar e transformar, lutar contra o praticismo cego e pelo estudo do marxismo-leninismo à luz das experiências passadas e actuais da luta, enfim, lançar mãos a um grande trabalho de estudo teórico e de formação dos quadros políticos proletários da revolução é tarefa urgente e principal, absolutamente indissociável da luta pela denúncia e isolamento do reformismo e do revisionismo.
Mas na experiência já rica das tentativas de superação do revisionismo do P«C»P um novo e relativamente latente perigo se divisa no culto da teoria pela teoria, o do culto da «análise marxista» abstracta, da interpretação apriorística que parte não da verdade mas de ideias teóricas desligadas da experiência concreta da luta. Pegar nas obras de Marx, Engels, Lenine, Estaline e Mao Tsé-tunge recitá-las sabiamente de uma ponta à outra, mas com total incapacidade de transformar tais ideias em instrumentos de luta, em factores de acção sobre a realidade é uma atitude subjectivista contrária ao método marxista-leninista, porque «o marxismo-leninismo é a teoria que Marx, Engels, Lenine e Estaline criaram na base da prática, a conclusão geral que tiraram da realidade histórica e revolucionária»[3]. Pode um grupo de pessoas, distantes da realidade da luta, apregoar a sua adesão ao marxismo-leninismo, demonstrar por escrito que os seus princípios são formalmente bem conhecidos, declarar que na base deles se vão erguer grandes e belos partidos… que, ao fim de 2, 3, 6 anos nada se continuará a ver, nada de novo se poderá sentir. É que um elemento essencial foi «esquecido»: o marxismo-leninismo e a teoria táctica e estratégica da Revolução são o resumo constante da prática da luta quotidiana, a sua interpretação à luz da experiência acumulada com a finalidade de abrir constantemente novos caminhos na acção. É preciso estar na luta ou começar por estar na luta, para encontrar as vias correctas de a conduzir e de, na base dela, reconstruir o Partido. Os que começam a pontificar de fora dela, «explicando» depois como devia ter sido mas nunca conseguindo nem tentando pôr-se à sua cabeça, à espera que as «condições» para tal apareçam, não só desconhecem o marxismo-leninismo no seu aspecto essencial, o método dialéctico, como morrerão à espera que as tais «condições» surjam, dando sempre belas lições dogmáticas de «marxismo-leninismo» completamente desligadas da realidade e raramente respondendo às reais necessidades da luta.
Se insistimos no perigo do dogmatismo é porque ele pode vir a tornar-se uma ameaça real no trabalho reorganizativo do Partido Revolucionário do Proletariado, dado o estado embrionário da organização e o controlo ainda superficial de alguns importantes centros de luta. O camarada Mao Tsé-tung, em 1942, no seu discurso «Por um estilo de trabalho correcto no Partido», apontava que das duas formas de subjectivismo, o praticismo e o dogmatismo, este era então o mais perigoso porque «… com efeito é fácil aos dogmáticos darem-se ares de marxistas para impressionar, subjugar e sujeitar os quadros de origem operária e camponesa, aos quais é difícil desmascarar a verdadeira face daqueles. Os dogmáticos podem também impressionar a juventude ingénua e inexperiente mantendo-a sob sua influência».
Se no momento actual a luta contra o praticismo revisionista é o objectivo central da nossa luta ideológica e é a tarefa teórica básica do trabalho de reorganização marxista-leninista do Partido, devemos estar atentos ao perigo que nesta fase pode constituir o subjectivismo dogmático na teoria e na prática, com as suas grandes frases, grandes «análises» e igualmente com a sua grande paralisia.
O remédio certo contra qualquer destes desvios é a constante ligação da organização embrionária à luta, é a reflexão e o fortalecimento assentes nos dados que ela fornece, é a recusa do idealismo metafísico e mecanicista: «organizar primeiro lutar depois», ou do praticismo cego, oportunista e igualmente idealista: «lutar primeiro e só depois virá a organização», pela definição do único caminho correcto e dialéctico: «organizarmo-nos na luta para podermos dirigir a luta». É este o método que seguirá e segue o M. R. P. P..
2. Sabemos a que levou o praticismo, a desmobilização e o reformismo da direcção pequeno-burguesa do P«C»: a um acentuado refluxo da luta popular desde 1962, refluxo em que se geraram condições para surgirem as primeiras tentativas de reconstruir o Partido do Proletariado em bases revolucionárias. Não foram muito mais longe tais experiências: umas morreram em novas formas de praticismo aventureirista e radical-pequeno-burguês, outras para lá caminham, outras ainda estiolam no dogmatismo de estufa de certos «sábios» do «marxismo-leninismo».
Noutra altura (n.º 2 do «BANDEIRA VERMELHA») melhor analisaremos a natureza de tais experiências e o motivo porque falharam ou estão a falhar.
Interessa sim aqui referir que o M. R. P. P. surge na base da ruptura essencial com o reformismo revisionista e da denúncia das formas aventureiras e dogmáticas de superar o direitismo.
Interessa realmente aqui referir que na base da experiência acumulada da luta proletária portuguesa e internacional e dos ensinamentos actuais dessa luta assente nos princípios do marxismo-leninismo, um núcleo de operários, camponeses, jovens e intelectuais comunistas ousaram meter ombros à tarefa de vir a constituir o Partido Revolucionário do Proletariado Português, que para esse fim criaram uma organização marxista-leninista embrionária: o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado – M. R. P. P. – em contacto directo no interior do país com a luta quotidiana dos explorados; e que, a partir da teoria proletária recente e já elaborada sobre a revolução portuguesa, pelo seu aprofundamento e pela investigação própria esboçaram uma definição estratégica das fases daquela revolução e definiram prioridades de actuação táctica. É esta luta que o «BANDEIRA VERMELHA» continuará a travar desbravando o caminho revolucionário a percorrer e afastando os escolhos do oportunismo.
3. Também a guerra que agora iniciamos pela reorganização revolucionária do proletariado é prolongada e difícil.
Não faltarão os demissionistas e os cépticos; não faltarão os inimigos e sabotadores; não faltarão os oportunistas à espera de «ver o que isto dá» para então aderir; não faltarão os que fiquem pelo caminho que a luta é dura e prolongada e o inimigo não perdoa. Para nós, proletários de vanguarda, para nós marxistas-leninistas, só há porém um caminho justo quando o proletariado é traído, quando a luta declina sem direcção, quando o inimigo triunfa: é colocarmo-nos à frente dos acontecimentos, é darmos o primeiro e decisivo passo, é forçarmos o caminho da história. Não interessa saber se somos muitos ou poucos no momento de começar: interessa saber se a nossa linha é a mais justa e correcta, se os nossos métodos são os verdadeiramente leninistas. Se assim for e se soubermos aplicar a primeira e praticar os segundos, em breve cresceremos e connosco a luta.
Hoje e aqui, o M. R. P. P., núcleo embrionário dos comunistas, representa a ala mais avançada do proletariado português, que recusando a traição revisionista, a aventura pseudo-radical ou o dogmatismo estéril, resolveu tomar nas suas mãos a organização revolucionária dos operários e camponeses, visando a Revolução Popular e seguidamente a socialista.
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