Nova explosão da insurreição operária: greve de massa e combates de rua em Moscovo. Os primeiros trovões da acção revolucionária do proletariado troaram na capital em 22[9] de Janeiro. Os seus ribombares ressoaram em toda a Rússia, e apelaram com uma rapidez até então desconhecida mais de um milhão de proletários a uma luta de gigantes. O exemplo de Petersburgo foi seguido nas regiões fronteiriças, onde a opressão nacional aumenta um jugo político já sem isso intolerável. Riga, a Polónia, Odessa, o Cáucaso tornaram-se, um após outro, os centros de uma insurreição que progrediu em amplitude e profundidade de mês em mês, de semana em semana. Hoje em dia a luta atingiu o centro da Rússia, o coração das regiões «verdadeiramente russas» cujo conservadorismo social fez durante muito tempo a alegria dos reaccionários. Diversas circunstâncias explicam este relativo conservadorismo, ou antes, este estado atrasado do centro da Rússia: as formas menos evoluídas da grande indústria que abrangeram largas massas operárias, mas quebraram menos os seus laços com a terra e concentraram menos os proletários em centros intelectuais; um maior afastamento do estrangeiro; a ausência de divergências nacionais. O movimento operário que se manifestou com tanta força nesta região desde 1885-1886 parecia estar adormecido por muito tempo, os esforços dos social-democratas tinham-se malogrado dezenas e centenas de vezes, perante as condições locais de trabalho particularmente árduas.
Mas enfim o centro agitou-se também. A greve de Ivanovo-Voznessensk mostrou a cada instante a grande maturidade política dos operários. Em toda a região industrial do centro, a agitação não parou de crescer e de se estender desde esta greve. Esta agitação começa agora a transbordar, a transformar-se em insurreição. Sem dúvida alguma a explosão foi ainda reforçada pela conduta dos estudantes revolucionários de Moscovo, que acabam de adoptar uma resolução completamente análoga à dos seus camaradas de Petersburgo, em que difamam a Duma do Império, apelam à luta para a República e para a criação de um governo provisório revolucionário. Cedendo à pressão e às ameaças da polícia, os professores «liberais» que acabavam de eleger um reitor liberal de entre eles, o famoso M. Troubetskoi, fecharam a universidade: no seu entender, temiam em ver repetir-se nas paredes da universidade a carnificina de Tiflis. Não fizeram senão apressar o derramamento de sangue nas ruas, ni exterior da universidade.
Tanto quanto podemos julgar depois de breves comunicações telegráficas dos jornais estrangeiros, os acontecimentos de Moscovo seguiram o decurso «habitual», tornado por assim dizer normal desde o 22[9] de Janeiro. Começaram pela greve dos tipógrafos-compositores que se espalhou rapidamente. Sábado, 7 de Outubro [24 de Setembro], as tipografias, os carros eléctricos, as manufacturas de tabaco estavam já em greve. Os jornais não apareceram. Esperava-se uma greve geral dos ferroviários e dos operários fabris. À tarde, houve grandes manifestações, nas quais participavam, além dos tipógrafos, operários de outros ofícios, estudantes, etc.. Os cossacos e os polícias dispersaram com muito custo os manifestantes que se tornavam a juntar de novo. Numerosos agentes da polícia ficaram feridos. Os manifestantes atiravam pedras e usavam revólveres. Um oficial comandante dos polícias ficou gravemente ferido. Um oficial cossaco e um polícia foram mortos, etc..
No Sábado, os padeiros aderiam à greve.
Domingo, 8 de Outubro [25 Setembro], os acontecimentos tomaram rapidamente um aspecto ameaçador. Ajuntamentos de operários formaram-se nas ruas desde as 11 horas da manhã, sobretudo na Avenida Strastnoi e noutros locais. A multidão cantava A Marselhesa. As tipografias que recusavam entrar em greve foram saqueadas. Os cossacos não lograram dispersar os manifestantes senão depois de terem superado uma resistência persistente.
Em frente do armazém Filippov, perto do palácio do governador-geral, concentrou-se uma multidão de cerca de 400 pessoas, formada principalmente por aprendizes de padeiro. Os cossacos atacaram-na. Então os operários entraram numa casa, subiram para o telhado e de lá massacraram os cossacos com uma chuvada de pedras. Os cossacos dispararam para o telhado mas não conseguindo desalojar os operários procederam a um cerco. A casa foi cercada, um destacamento de polícia e duas companhias de granadeiros executaram um movimento de cerco, introduziram-se pelas traseiras do imóvel e acabaram por se tornar senhores do telhado. Cento e noventa e dois aprendizes foram presos. Oito deles ficaram feridos. Dois operários ficaram por terra. (Repetimos que este relato é unicamente baseado nas informações telegráficas dos jornais estrangeiros; estão naturalmente longe da verdade e não dão mais que uma ideia aproximada da importância do combate). Um jornal belga muito sério relata que os porteiros do palácio tiveram muito que fazer para apagar nas ruas os traços de sangue; este pequeno detalhe, observava este jornal, diz muito mais sobre a gravidade da luta do que os relatos difusos.
Os jornais de Petersburgo foram autorizados, parece, a falar da carnificina da rua Tverskaia, mas desde o dia seguinte que a censura temia a publicidade. Os despachos oficiais da segunda-feira, 9 de Outubro [26 de Setembro] diziam que não havia agitações sérias em Moscovo. No entanto, as redacções dos jornais de Petersburgo recebiam por telefone outras informações. A multidão juntava-se de novo diante do palácio do governador-geral. Havia fortes recontros. Os cossacos abriam fogo, várias vezes seguidas. Quando se apearam para fazer fogo, os seus cavalos esmagaram muita gente. Pela tarde, grande número de operários percorria as avenidas, bandeiras vermelhas desfraldadas, soltando gritos rebeldes. A multidão saqueava as padarias e os armazéns de armeiros. A polícia acabou por dispersá-la. Houve muitos feridos. A estação central do telégrafo estava guardada por uma companhia de soldados. A greve dos padeiros tornou-se geral. A efervescência aumentou entre os estudantes, as reuniões tornaram-se mais numerosas e mais revolucionárias. O correspondente em Petersburgo do Times fala de panfletos apelando à luta propagada em Petersburgo, do movimento dos padeiros, de uma manifestação marcada para Sábado, 14[1] de Outubro, da grande inquietação do público.
Por sumárias que sejam estas informações, elas permitem concluir que a explosão insurreccional de Moscovo não representa, comparada com as outras, o ponto mais alto do movimento. Não se vê destacamentos revolucionários formados antecipadamente e bem armados entrar em acção, nem uma fracção apreciável de soldados juntar-se ao povo, nem o povo usar em larga escala «novas» armas populares, as bombas (que semearam o tal pânico entre os cossacos e os soldados em 9 de Outubro [25 de Setembro] em Tiflis). Ora sem qualquer uma destas condições, era impossível contar com o armamento de um grande número de operários ou com a vitória da revolta. O significado dos acontecimentos de Moscovo é outro, como já referimos: atestam o baptismo de fogo de um grande centro, a entrada de uma vasta região industrial na luta efectiva.
A insurreição no país não cresce e não pode naturalmente crescer num ritmo igual e regular. O movimento de 22[9] de Janeiro em Petersburgo foi sobretudo caracterizado pela acção unânime e rápida de grandes massas, que não estavam armadas e não iam para a luta, mas que receberam uma grande lição de luta. Na Polónia e no Cáucaso o movimento distingue-se pela sua extrema tenacidade e pelo emprego relativamente mais frequente das armas e das bombas pela população. O acontecimento característico de Odessa foi a passagem de uma parte das tropas para os insurrectos. Sempre e por todo o lado o movimento foi essencialmente proletário e está indissoluvelmente ligado à greve de massas. Em Moscovo… o movimento desenrolou-se no mesmo quadro como em vários outros centros industriais menos importantes.
Uma questão natural se põe agora: o movimento revolucionário parará nesta fase de desenvolvimento já esperada, tornada «habitual» e familiar ou passará a um estádio superior? Se é permitido arriscar o cálculo de acontecimentos tão gigantescos e complexos como os da revolução russa, chegaremos inevitavelmente à conclusão da muito forte probabilidade da segunda hipótese. É um facto que a forma de luta actual, já conhecida de cor, se se pode exprimir assim – a guerra de guerrilhas, as greves incessantes, o desgaste do inimigo com ataques e batalhas de rua ora num extremo do país, ora no outro – já foi e ainda é fácil em resultados extremamente sérios. Nenhum Estado resistiria à la longue a esta luta tenaz que paralisa a vida industrial, desmoraliza completamente a burocracia e o exército, semeia o descontentamento em todos os meios da população. A autocracia russa é de qualquer maneira incapaz de suportar a prova. Podemos estar certos que a continuação perseverante da luta, mesmo só sob as formas já criadas pelo movimento operário, conduzirá infalivelmente ao desabamento do czarismo.
Mas a paragem do movimento revolucionário na Rússia contemporânea, no grau que atingiu é improvável. Tudo nos diz pelo contrário que não é mais que uma das fases iniciais da luta. O povo está ainda longe, muito longe de sentir todas as consequências da uma guerra desonrosa e desastrosa. A crise económica nas cidades e a fome nos campos agravam terrivelmente a irritação. A julgar por todas as informações, o estado de espírito do exército da Manchúria é muito revolucionário, o governo teme repatriá-lo, mas não o pode repatriar sob pena de expor a novas revoltas ainda mais graves. A agitação política nos meios operários e entre os camponeses nunca foi na Rússia tão grande, tão sistemática e tão profunda como hoje em dia. A comédia da Duma de Estado conduzirá inevitavelmente a novas derrotas para o governo e estimulará novas cóleras entre a população. A insurreição cresceu terrivelmente debaixo dos nossos olhos em cerca de dez meses. Não é formular uma opinião fantasista ou um desejo platónico, mas sim deduzir as consequências directas e necessárias dos factos da luta de classe, concluir que a insurreição é chamada a passar dentro em pouco para um grau superior, a entrar numa nova fase, no decurso da qual os destacamentos militares de combate dos revolucionários ou as unidades de tropas amotinadas apoiarão a multidão, ajudarão as massas a armarem-se, provocarão as maiores vacilações das tropas «czaristas» (ainda czaristas, mas já longe de serem inteiramente czaristas) e em que a revolta trará uma vitória séria da qual o czarismo não se poderá recompor.
As tropas do czar alcançaram uma vitória sobre os operários de Moscovo. Mas esta vitória, longe de reduzir os vencidos à impotência, não fez mais do que aumentar a sua coesão, consolidar o seu ódio, pôr na sua frente de uma maneira mais rápida os problemas práticos da luta efectiva. Esta vitória é daquelas que não podem deixar de espalhar hesitações nas fileiras dos vencedores. A tropa, somente agora, começa a aprender, pela experiência e não mais apenas pela leitura das leis, que a mobilizam na hora actual inteiramente e exclusivamente contra «o inimigo interior». A guerra com a Japão acabou. Mas a mobilização continua, uma mobilização contra a revolução. Nós não tememos uma mobilização deste género, não hesitaremos em saudar o augúrio, porque quanto maior for o número de soldados chamados a combater sistematicamente o povo, maior será e mais rapidamente se fará a sua educação política e revolucionária. Com esta mobilização contínua de novas unidades para a guerra contra a revolução, o czarismo demora o desfecho, mas ninguém mais que nós beneficia com estas demoras, porque nesta interminável guerra de guerrilhas, os proletários aprendem a combater, enquanto que as tropas são inevitavelmente levadas a participar na vida política, e a chamada desta vida, o grito de guerra da jovem Rússia penetra mesmo nas casernas mais bem fechadas, acorda os mais ignorantes, os mais atrasados, os mais aterrorizados.
A explosão insurreccional foi uma vez mais reprimida. Uma vez mais: Viva a insurreição!
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